sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Manifestação de repúdio

As drogas estão corroendo o tecido social de forma assustadora no Brasil. A mais destruidora é comprovadamente o álcool, destacadamente a cachaça, barata, de fácil circulação por todos os recantos mais remotos do país. Há destilarias por toda parte. Produzimos 1 bilhão de litros por ano.
O vício é poderoso, a dependência se torna incurável. Os estragos são variados: destruição da saúde física e mental do alcoólatra, desagregação da sua família, violência doméstica e no trânsito, deixando rastros de infelicidade, dor e morte, registrados nos noticiários de todos os dias.
Os graves custos sociais também se traduzem em custos financeiros bilionários para o sistema de saúde. Em suma, a cachaça é um inimigo perverso e traiçoeiro das famílias, pior ainda por ser tratado como elemento folclórico da nossa cultura, chamada carinhosamente de pinga ou cachacinha.

Manifestação de repúdio.

Em 28 de outubro, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou a criação do Dia Nacional da Cachaça, Projeto de Lei do deputado ruralista Valdir Colatto (PMDB-SC), com parecer favorável do relator, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), este alegando que “a cachaça já foi incorporada ao cotidiano de milhares de brasileiros”.

O projeto vai à aprovação do plenário da Câmara e, se aprovado, seguirá para o Senado. Na argumentação os autores dessa façanha destacam que “o produto é um dos símbolos do povo brasileiro”.

Imagina-se que a Comissão de Educação deva ter uma pauta robusta de temas e projetos a discutir e aprovar para que aconteça uma verdadeira e necessária revolução no modelo educacional do país. A criação de um dia de exaltação da cachaça a nível nacional é uma aberração, na contramão da sua pauta.

As entidades que subscrevem seu repúdio formal a esse projeto de lei convidam outras organizações a somarem esforços para sustar esse desvio de conduta de parlamentares muito bem remunerados pelo povo brasileiro, mas cegos à sua realidade.

MFC – Movimento Familiar Cristão
Utilidade Pública Federal
INFA – Instituto da Família
Utilidade Pública Federal, Estadual RJ, Municipal Rio
CAALL – Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade

sábado, 3 de outubro de 2009

Recordando Murillo Navarro Pereira

Dirigente do Movimento Familiar Cristão do Rio de Janeiro, com sua esposa Ilva.
Sócio fundador do INFA


Na missa, com Ilva, filhos, netos e bisnetos, parentes e tantos amigos, sete dias após seu falecimento, esta foi a mais tocante homenagem, oferecida por seus netos.
“Homenagear o senhor é a coisa mais difícil nesse momento. Difícil simplesmente pela pessoa maravilhosa que você foi e representou para nós. Nos ensinou a importância da família e o significado de uma palavra tão subjetiva como o amor, tornando esses dois conceitos muito reais em nossas vidas. Portanto, nós temos a agradecer, não só por isso, mas por todas as lembranças marcantes. Quem não conviveu não consegue entender o que eram nossas noites frias em Cabo Frio, com os primos reunidos, fazendo bagunça na casa; não consegue entender o por que adorávamos o seu exclusivo CATAPUMBA e os piqueniques na praia do Sudoeste; não consegue imaginar a alegria das nossas festas de Natal; não consegue imaginar como você era um ótimo contador de histórias; enfim, não consegue entender a falta que você faz!
Junto com a vovó, com dignidade e respeito criou 10 filhos e recebeu com amor todos os netos e bisnetos; construiu uma família linda que sempre terá você como um ícone, pode ter certeza! Obrigada por tudo, vô! Por todas as conversas e conselhos, por todos os ensinamentos, por ter sido não só um avô, mas amigo para todos nós! Obrigada por ter estado sempre presente tanto nos momentos tristes quanto nos felizes, dividindo conosco o simples prazer de tê-lo por perto. Se hoje você faz falta para todos é porque soube conquistar cada um em especial, porque teve o dom e a sabedoria de plantar apenas bons frutos em nossos corações.
Temente a Deus, sabia brigar quando necessário e puxava nossas orelhas só pra ficarmos espertos; fazia festinha em nossas cabeças como ninguém, mas também sabia pedir, não é, vó?!; era dono de um sorriso lindo e meigo e de uma risada gostosa, de um bigode e uma careca características, assim como uma teimosia irreverente, principalmente quando se tratava de idas ao médico ou tomar remédios.
Sabe, nem sempre sabemos dar valor a pequenos acontecimentos, rotineiros ou não, e só quando perdemos nos damos conta do inestimável valor que aquilo representava.
Só queríamos que o senhor soubesse que reconhecemos agora cada momento precioso e agradecemos a Deus por termos tido um avô que viveu o tempo todo nos proporcionando tantas alegrias; por termos tido um avô do qual possamos lembrar com alegria e orgulho; por termos tido o melhor avô do mundo.
Mais uma vez, o senhor está fazendo muita falta, mas com certeza a saudade que nós gostamos de ter e se, em algumas noites traiçoeiras, a cruz estiver pesada, saberemos agora que não só Cristo estará conosco em nossos corações.
Amamos Você!
Todos os netos.”
Autora do Texto: Paula Barroso Pereira Madruga, neta de Murillo Navarro Pereira

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Menino de rua

Nesse pequeno que passa, roto e sujo, pela rua, caminha o futuro. É a criança filha de ninguém, o garoto sem nome além de menino de rua. Passa o dia entre as avenidas da cidade, as praças e por vezes nos amedronta, quando se aproxima. Ele não vai à escola e todas as horas observa que se esgotam os momentos da sua infância.
Você atende os seus filhos, tendo para eles todos os cuidados. Esmera-se em lhes preparar um futuro, selecionando escola, currículo, professores, cursos. Acompanha, preocupado, os apontamentos dos mestres e insiste para que eles estudem, preparando-se profissionalmente para enfrentar o mercado de trabalho.
Você auxilia os seus filhos na escolha da profissão, buscando orientá-los e esclarecê-los, dentro das tendências que apresentam. Você se mantém zeloso no que diz respeito à violência que seus filhos podem vir a sofrer, providenciando transporte seguro, acompanhantes, orientações. São seus filhos. Seus tesouros. Enquanto seus filhos crescem em intelecto e moralidade, aqueles outros, os meninos de rua prosseguem na aprendizagem das ruas, maltratados e carentes. À semelhança dos seus filhos, eles crescerão, compondo a sociedade do amanhã. A menos que pereçam antes, vítimas da fome, das doenças e do descaso. Cruzarão seus dias com o de seus rebentos e, por não terem recebido o verniz da educação, as lições da moral e o tesouro do ensino, poderão ser seus agressores, procurando tirar pela força o que acreditam ser seu por direito. Você se esmera na educação dos seus e acredita ser o suficiente para melhorar o panorama do mundo. No entanto, não basta. É imprescindível que nos preocupemos com esses outros meninos, rotos e mal cheirosos que enchem as ruas de tristeza. Com essas crianças que têm apagada, em pleno vigor, sua infância, abafada por trabalhos exaustivos, além de suas forças. Crianças com chupeta na boca utilizando martelos para quebrar pedras, acocorados por horas, em incômoda posição. Crianças que deveriam estar nos bancos da escola, nos parques de diversão e que se encontram obrigados a rudes tarefas, por horas sem fim que se somam e eternizam em dias. Poderiam ser os nossos filhos a lhes tomar o lugar, se a morte nos tivesse arrebatado a vida física e não houvesse quem os abrigasse. Filhos de Deus, aguardam de nós amparo e proteção. Poderão se tornar homens de bem, tanto quanto desejamos que os nossos filhos se tornem. Poderão ser homens e mulheres produtivos e dignos, ofertando à sociedade o que de melhor possuem, se receberem orientação. Por ora são simplesmente crianças. Amanhã, serão os homens bons ou maus, educados ou agressivos, destruidores ou mensageiros da paz, da harmonia, do bem. É dever de todos amparar o coração infantil, em todas as direções, orientar a infância, colaborando na recuperação de crianças desajustadas. É medida salutar para a edificação do futuro melhor. Sem boa semente, não há boa colheita. Enfim: acolher e educar os pequeninos é humanizar a humanidade.

(Momento de Reflexão – via Internet)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Os pais em uma sociedade educadora

Marcelo Barros*
A comemoração do dia dos pais tem sempre forte apelo comercial, mas não deixa de suscitar fortes emoções, seja para quem pode abraçar seu pai, seja para as pessoas cujo pai já partiu para a eternidade. Esta data foi inventada, em 1953 pelo jornal O Globo, no contexto de uma crise política, "para permitir que os filhos homenageassem a figura heróica do chefe de família que, nestes dias, atribulados e difíceis, é o responsável pela preservação dos laços cristãos que mantêm unida a família brasileira" (Cf. O Globo, 05/ 08/2005).
Atualmente, a realidade política é mais estável e a sociedade é pluralista, ou seja, cultural e religiosamente diversificada. A família tem uma estrutura de convivência diversa e a comemoração do dia dos pais tem outro contexto e finalidade. Festejar o dia dos pais pode ser boa ocasião para se refletir sobre o exercício da paternidade, seja dos homens que têm a graça e a responsabilidade de ter gerado vidas, seja de outros que, mesmo sem ser pais biológicos, são responsáveis por uma paternidade afetuosa e espiritual.
Todo mundo pode ter amigos e amigas, mas cada ser humano tem apenas um pai e uma mãe. Em seu tempo, São Paulo escreve a uma comunidade que acompanha: "Embora vocês possam ter dez mil instrutores, não têm muitos pais. Só eu os gerei no Cristo" (1 Cor 4, 15).
As figuras de pai e mãe são, de tal forma, responsáveis pela estruturação da personalidade que é comum as pessoas idealizarem o que seria o pai ou a mãe perfeitos. Muitas mensagens que circulam no dia dos pais falam de um pai maravilhoso que, dificilmente, pode ser assim na vida concreta.
Hoje, no Brasil, uma em cada três crianças que nascem não tem como festejar o dia dos pais. Não por ser pobre ou por algum desastre natural, mas porque seu pai não a assumiu. Na certidão de nascimento consta apenas o nome da mãe. Todos os anos, no Brasil, nascem cerca de 800 mil crianças, frutos desta situação desumana (revista Época, 27/ 07/2009).
Ser pai no plano biológico é relativamente fácil e existem, hoje, técnicas genéticas que garantem isso para quem tenha alguma dificuldade. O desafiador é ser pai na construção amorosa de uma história humana. Trata-se de acompanhar contínua e generosamente outro ser em crescimento e que precisa de uma figura de educador como referência. Mesmo em uma sociedade na qual a maioria das famílias tem, cotidianamente, de lutar para sobreviver e garantir o seu trabalho, é importante assegurar o tempo de diálogo com os/as filhos/as, no qual estes possam ser confirmados e estimulados a sempre crescer na descoberta de novos valores e na relação benéfica entre escola e vida.
Na maioria das famílias brasileiras, é a mãe que, cada dia ou à noite, pergunta à criança pelo dever de casa. Embora, muitas vezes, nem ela mesma tenha segurança na matéria, confirma o filho ou filha no estudo. É importante que o pai, como homem, cumpra também a função de estimulador do crescimento educacional da criança ou adolescente. A escola cumpre um papel fundamental, mas só o apoio afetivo do pai e da mãe motivam a criança a avançar na escola e no caminho da educação integral. É por garantir este cuidado que o pai, mesmo se não teve as mesmas condições de estudar, pode sentir-se atualmente gerador contínuo de vida e crescimento para seus filhos. Ao fazer isso, ele vai constatar como tinha razão o poeta Vinícius de Moraes ao dizer no Poema Enjoadinho, que os filhos dão um trabalho imenso, mas, ao mesmo tempo, "que felicidade que os filhos dão!".
Ser pai significa assumir encargos sociais e humanos. Entretanto, para quem crê, é principalmente aceitar ser imagem de Deus-Amor, principalmente para as pessoas que nos olham como pai ou mãe.
* Monge beneditino e escritor. Publicado por ADITAL.

Nova Lei de Adoção

Sancionada pelo presidente da República no dia 3 a lei que estabelece novas regras para adoção, priorizando o direito da criança e do adolescente à convivência familiar. A nova lei entra em vigor em 90 dias. "É uma legislação criada para evitar a burocracia excessiva que hoje dificulta o final feliz para crianças e adolescentes que necessitam de uma nova família, e adultos que travam uma luta muitas vezes inglória para adotá-los", disse o presidente.
A lei deve reduzir a longa lista de espera para adoção no país. Hoje há cerca de 80 mil crianças e adolescentes em abrigos mas somente 3.500 em condições de adoção. Há 22.500 casais cadastrados para adotar. Fica limitada a dois anos a permanência em abrigos. Será assegurada assistência jurídica a gestantes e mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Austeridade

Como todos sabemos, a maioria das famílias brasileiras vive uma austeridade forçada. Tentando nada mais que sobreviver biologicamente pela venda de sua atividade física a baixo preço, essas famílias não consomem sequer o mínimo essencial para o desenvolvimento físico e mental equilibrado dos seus membros.

Helio e Selma Amorim*

Vivendo na condição de extrema pobreza ou miséria indigna, os que nascem estão condenados a reproduzir a pobreza pelos danos irreversíveis causados pela falta de alimentação adequada e efetiva assistência à saúde, pela exclusão social e condições precárias de vida desde o nascimento.
Falar-lhes de austeridade seria de mau gosto. Mesmo assim, há quem repreenda os pobres por gastarem numa cerveja de sábado ou na compra de alguma bugiganga inútil os parcos reais que, na ótica das nossas simpáticas elites, deveriam ser aplicados, por exemplo, em mais comida e higiene... Com essa apreciação crítica, sentem-se aliviadas. Afinal essa gente é pobre porque esbanja seu dinheirinho em coisas supérfluas em vez de comprar mais feijão.
Se nos transferimos para as famílias das classes médias, entretanto, vamos nos deparar com a farra consumista dos que têm trabalho, renda ou emprego seguro, e uma austeridade contrafeita dos que perderam o emprego ou o poder aquisitivo em conseqüência da crise financeira mundial.
Em ambos os casos, é forte o desejo de consumir, insuflado pela propaganda inteligente e sofisticada que associa à felicidade o consumo de bens atraentes de utilidade duvidosa.
Então os que podem, compram tudo o que se anuncia prometendo mais conforto e prazer. Comprar e possuir passa a ser um definidor de status social. A competição se estabelece, o espírito de imitação atua, a insensibilidade social e ecológica colabora. O amigo que compra para o filho uma engenhoca nova anunciada nas cores da TV passa a ser uma indução forte para que eu faça o mesmo por pressão desesperada do meu filho. Ele se julgará o mais infeliz dos infantes ou adolescentes mortais se não ganhar aquele brinquedinho idiota ou o joguinho estúpido de computador que lhe ensinará como atropelar velhinhos e mulheres grávidas para ganhar mais pontos.
Na mesa, o tradicional café com leite com pão e manteiga e o velho queijinho mineiro deram lugar a uma parafernália de tipos de pães, caixas e embalagens plásticas coloridas de cereais, sucrilhos, variados aditivos achocolatados para o leite longa-vida com a promessa de fartura de saúde e energia para a gurizada, à base de dezenas de vitaminas e proteínas - sem as quais ninguém sobreviverá, dizem os rótulos.
As embalagens sofisticadas, talheres, copos e toalhas descartáveis assustam: as latas de lixo ficam entulhadas, a cada dia, de "bens da natureza e frutos do trabalho do homem" que se descartam porque para isso foram feitos, em favor da simplificação do trabalho doméstico. A família mergulha, sem sentir, na sociedade do descartável e do desperdício criminoso, que destrói a natureza sem piedade.
É claro que se os bens realmente úteis e confortos simplificadores da vida doméstica fossem acessíveis para todos e que a natureza não fosse depredada por esse consumo, bastaria o cuidado de não se chegar à dependência desumanizadora das famílias a esses múltiplos bens materiais. Acontece que não é assim. A maioria das famílias não tem acesso a esses bens de consumo e a predação da natureza é cada vez mais evidente e preocupante.
Por outro lado, nas classes médias, a busca sôfrega pela posse de bens materiais, associada ao consumo obsessivo, se torna cada vez mais onerosa e exigente. É preciso trabalhar mais, fazer horas extras e "bicos" de fins de semana para ganhar mais e comprar mais. O tempo para o diálogo, para o lazer e a convivência familiar e social escasseia. Vive-se para trabalhar, comprar e consumir. Não há tempo para os filhos e para a contemplação da natureza.
Define-se um padrão de vida arriscado. Qualquer abalo na situação econômica da família que afete esse nível de consumo a que se habituou gera uma insatisfação nervosa. Já não sabem mais viver sem aquela quantidade de confortos e bens que passaram de supérfluos a indispensáveis.
O simples receio de que isto possa acontecer já afeta a tranqüilidade da família. É claro que um elevado padrão de vida escraviza e estressa. A austeridade, ao contrário, é libertadora e gera mais tranqüilidade. Se o padrão de consumo e conforto que adoto está abaixo do que meus rendimentos e capacidades pessoais me permitiriam, tenho maior segurança de que em situações de crise me será possível encontrar saídas para manter esse estilo de vida mais austero que adotamos.
Mais ainda e, principalmente: um padrão austero de vida gera uma capacidade maior de a família partilhar seus bens com os que nada têm. Os consumistas desvairados nunca têm como repartir. Estão sempre endividados nos seus variados cartões de créditos e cheques especiais para manter o seu arriscado padrão de consumo.
Como neutralizar ou pelo menos atenuar a indução ao consumismo desvairado nas famílias das classes médias?
Parece-nos que somente se pode enfrentar essa onda consumista avassaladora pela sensibilidade social cultivada desde cedo, com a consequente valorização da austeridade como opção de vida com mais liberdade, tranqüilidade e felicidade, entendida como expressão simbólica e ao mesmo tempo efetiva de solidariedade com os pobres. Austeridade que potencializa a capacidade de partilha de bens com quem não os tem.
Essa sensibilidade se constroi. Parte do contato habitual, físico, sensorial, com famílias pobres. Manter relações estreitas com famílias em situação de pobreza é essencial para se ver o mundo por sua ótica. Se desde criança os filhos são envolvidos nessa convivência com os deserdados e excluídos da sociedade, vão compreender, pouco a pouco, que o consumismo é absurdo, que o desperdício é uma agressão aos que vivem das migalhas dos ricos.
Sem esse envolvimento educativo e conscientizador, formam-se famílias burguesas que se isolam do mundo real em belos condomínios protegidos por grades e porteiros, mergulhados no consumismo desvairado, desenvolvendo as neuroses próprias desse modelo de família, que se manifestam na alienação e fuga da realidade e, nos casos extremos, no crescente uso de drogas, na multiplicação de gangues de jovens e adolescentes, até a opção pela criminalidade para alimentar a obsessão consumista, como o confessam tantos jovens delinquentes.
Vale resumir, insistindo: a austeridade é sem dúvida libertadora, base para a felicidade e expressão de solidariedade social.

*Diretores do Instituto da Família, Membros do Movimento Familiar Cristão.

v Como remar contra a corrente consumista?
v O consumo desvairado tem relação com a degradação do meio ambiente?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Denúncias de abuso sexual de menores sobem 183%

Cresce a confiança no Disque 100 para denúncias. No primeiro semestre de 2008 foram 166 denúncias. Neste mesmo semestre de 2009 são 471, ou seja, 77% do total das 660 denúncias recebidas, que incluem abusos sexuais contra mulheres adultas. Segundo Michelle Jorge, gerente do Núcleo de Violência Contra a Mulher, do Disque-Denúncia, o crescimento se deve à maior divulgação e à confiança das pessoas nesse serviço, que não exige a identificação do denunciante.

domingo, 26 de julho de 2009

Denúncias de exploração de menores

Denuncie!
Disque 100 de qualquer parte do Brasil.
Não precisa identificar-se.
Providências serão tomadas sigilosamente.
Não se omita. Salve uma criança ou adolescente.

Graus impensáveis de perversidade

Helio e Selma Amorim*

Quando pensávamos já ter a exploração sexual de menores chegado ao limite da estupidez, uma quadrilha desbaratada pela polícia em SP confessa seus crimes hediondos.

Para atender as preferências de tarados sexuais que incluem a procura de travestis de menos de 14 anos, os bandidos têm uma força-tarefa que alicia meninos de boa aparência em cidades das regiões mais pobres do país com a promessa de trabalho em São Paulo. As famílias são enganadas e ganham esperança de dias melhores para os filhos. Ou simplesmente são sequestrados.

Entra em ação outra equipe, a que transporta os meninos para a cidade grande, recebidos pela quadrilha da ponta, aquela que prepara as crianças para a prostituição infantojuvenil.

A preparação começa com a intimidação e promessa de ganhos. Segue a adequação física dos meninos, com o uso de hormônios que arredondam as suas formas e asseguram rostos imberbes, silicone para modelar os seios, crescem os cabelos. Como quem engorda um porco ou peru que será servido no Natal. Logo vestirão roupas femininas provocantes e passarão às ruas para o trabalho escravo degradante. Os tarados pedófilos chegam e consomem o produto desejado, pagam mal. Voltarão amanhã. Os meninos-travestis não terão mais chances de fuga ou de retorno para casa: a família nem reconheceria a criança ou adolescente metamorfosiado.

Difícil acreditar em tamanha deformação moral nessa prática hediondamente criminosa com efeitos terríveis, talvez irreversíveis, na vida dessas pobres vítimas. Infelizmente é real, filmada e televisada às oito da noite, pela Band, para horror de telespectadores horrorizados em suas poltronas depois do jantar. Metade da quadrilha está presa e confessou. A outra metade está foragida mas identificada, depois de meses de investigação. Ponto para a polícia.

Restam muitos problemas: onde acolher e como assistir as vítimas, profundamente feridas e deformadas física e psiquicamente; como desmontar outras quadrilhas que provavelmente estejam nesse ramo de negócio naquela e em tantas outras cidades; o que fazer como cidadão comprometido com o bem comum. Autoridades políticas e policiais parecem perdidas diante do tamanho social e geográfico do problema. As pessoas de boa vontade não dispõem de instrumentos eficazes para a atuação individual na cura dessa ferida social, a não ser na ajuda pontual em casos de vítimas próximas. Melhor e mais efetivamente integrando-se em entidades sociais intermediárias que se dediquem à luta pelos direitos da infância e adolescência.

O que também pode fazer facilmente como responsabilidade social cidadã será a denúncia de casos comprovados ou mesmo apenas suspeitos de práticas de pedofilia na vizinhança, abusos sexuais com crianças – muitas vezes dentro das famílias – e a prática hedionda da exploração da prostituição infantil. Não se omita. Use o telefone. Talvez alguém se salve por sua intervenção.

*Membros do MFC e Instituto da Família - INFA

Disque-denúncia: abusos sexuais contra crianças e adolescentes

Sexualidade: o desejo do outro

Deonira L. Viganó La Rosa.
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia.

Por que sexualidade e violência frequentemente estão relacionadas, se cada um dos cônjuges aspira à união total e pacífica com seu eleito? Por que esta harmonia dos corpos não acontece sempre naturalmente, quando um amor forte une os cônjuges?

Com efeito, para certos casais, não é suficiente amarem-se apaixonadamente para conseguirem uma vida sexual satisfatória; as dificuldades sexuais que muitas vezes são sentidas por um ou por outro como falta de amor, na verdade podem ter bem outras causas... E o que faz mal ao casal e o faz sofrer é constatar que seu amor é impotente para tornar harmoniosas suas relações íntimas.
Todo encontro sexual acontece no mistério
A relação sexual é o encontro do outro na sua radical diferença: isto implica que cada um esteja suficientemente à vontade com sua própria sexualidade para poder acolher a sexualidade do outro sem medo, e sem negar a sua. Estar feliz em ser aquilo que a natureza o fez, homem ou mulher, é a primeira condição para uma boa integração da sexualidade. Esta integração não surge de repente mas é construída passo a passo ao longo do tempo, em base à educação e à história de cada um, e não está jamais concluída ou perfeita; ela tem suas cicatrizes que podem reavivar-se sem, contudo, estar conscientes.
A mulher e o homem sempre vão viver de maneira diferente suas experiências sexuais. O que cada um sente não é totalmente entendido pelo outro. A mulher não pode senão interrogar-se sobre o que é a virilidade, e para o homem, a feminilidade permanece misteriosa. É justamente esta parte desconhecida e misteriosa, estranha para o outro, que faz acontecer a atração, mas também deixa pairar uma apreensão difusa que, em certas circunstâncias, pode transformar-se em angústia e suscitar movimentos de defesa, senão de agressividade.
Aparecem dificuldades de âmbito sexual ...
Há períodos em que a harmonia deixa a desejar, mas isto não é preocupante. Entretanto, isto se torna prejudicial ao casal quando ele se resigna, banalizando ou justificando o fato, já que a relação sexual é um meio privilegiado de expressar o amor e de confirmar a identidade sexual do parceiro. A vida sexual não só expressa, como fomenta o amor. Lamentavelmente, marido e mulher pouco se falam sobre questões relativas a esta área.
Ao terapeuta, mulheres relatam sentirem-se humilhadas quando para seus maridos não passam de um objeto sexual. Outras dizem sentirem-se humilhadas porque seus maridos já não as percebem como mulheres: ‘Serei ainda uma mulher para ele? Eu não duvido de seu amor: ele me ama como a uma mãe, mas eu quero ser amada como mulher’. Homens também se sentem feridos em sua virilidade quando o olhar de sua mulher já não exprime o desejo de dar-lhes prazer.

Quem são estes homens, estas mulheres, que não querem ser tratados como objetos?

O homem e a mulher pertencem ao mundo das pessoas, o mundo dos sujeitos, radicalmente distinto do mundo dos animais e das coisas. A pessoa do outro é o único ser visível ao seu redor que é, como você próprio, um sujeito. Os comportamentos ditados pela cobiça do outro lesam gravemente seu direito a ser reconhecido e tratado como sujeito pessoal. Isso acontece particularmente na relação sexual.
Aqui se pode compreender a profundidade do apelo à ternura na relação amorosa, apelo que às vezes se exprime indiretamente, até mesmo através de uma recusa, ou pela revolta ou raiva quando um se sente tratado como objeto pelo outro. É o grito do corpo que quer ser amado, tocado com ternura pelo outro.

O grito do corpo é o grito da pessoa.

Enquanto o olhar de volúpia sobre o corpo o coisifica e o fere profundamente, o olhar de ternura se dirige à pessoa toda inteira e reconhece sua beleza e a revela.
O olhar de ternura não é um olhar interessado, mas um olhar amoroso, maravilhado, sob o qual o ser amado se sente reconhecido. Longe de ser somente a gratidão sexual pelo prazer recebido, a ternura que jorra da afetividade é também uma autêntica atitude pessoal, do ser por inteiro.
A afetividade faz o homem sair de si para estar à escuta das mínimas manifestações de sua mulher e faz a mulher ultrapassar-se para sair de sua passividade e mostrar toda ternura a seu marido. A ternura assim expressa permite a ambos viverem a relação sexual como uma verdadeira relação interpessoal.

 Não seria bom conversar quando essa harmonia deixa a desejar?
 Há pessoas que poderíamos orientar nessa questão delicada? Como?

Infância violentada

Maria Clara Lucchetti Bingemer *

Em meio a todas as vicissitudes por que passa o Brasil, imaginamos que não há nada mais capaz de chocar-nos além do que já estamos todos enojados e estarrecidos. Mas, infelizmente, há sempre horrores a surpreender-nos ainda mais.

A vereadora Liliam Sá, do Paraná, declarou na CPI do Turismo Sexual que há denúncias de pontos de prostituição infantil em vários pontos do estado do Rio de Janeiro. Também chegaram à CPI informações de que há meninas se prostituindo em Sepetiba por R$ 1,99. Ao lado e além do fato, triste e desalentador, há a cifra que espanta pelo simbolismo que carrega em si.

Há muitos anos, a cifra R$ 1,99 virou um símbolo da estabilidade econômica popularizado em milhares de lojas de todo o país. O Plano Real ganhava credibilidade e o consumidor brasileiro via com tranqüilidade crescente artigos vendidos a R$ 1, 99, mostrando que se podia confiar no modelo econômico brasileiro, que saíra definitivamente da inflação galopante em que estivemos mergulhados durante longos anos. Agora R$ 1,99 denuncia uma espantosa instabilidade: a do nível de segurança em que vive grande quantidade de crianças e adolescentes em nosso país.
No ano passado, lemos espantados na grande imprensa a notícia de que a cifra R$ 1,99 tinha, nas cidades de Curitiba e Paranaguá, conotação bem diferente que a de calmaria econômica no cenário brasileiro. A simbólica e positiva cifra significa a maneira pela qual são conhecidas algumas ruas dessas cidades paranaenses onde meninas de 11 ou 12 anos - muitas já envolvidas com drogas - fazem programas ao ar livre por R$ 1,99 ou outros valores irrisórios.
Estreitamente ligado ao problema da prostituição infantil está, portanto, o imenso monstro da droga e do narcotráfico. Muitas dessas meninas se prostituem para obter droga. Por causa do crack que precisam cheirar e/ou vender, fazem sexo por qualquer dinheiro. Os clientes são caminhoneiros que param em postos de gasolina à margem das estradas federais. Ou marinheiros, em geral estrangeiros, que lotam bordéis na área do porto. No Rio de Janeiro, recentemente, a Polícia Rodoviária Federal identificou 1.918 pontos vulneráveis à ocorrência de casos de violência sexual contra crianças ao longo dos mais de 60 mil km de rodovias federais.
Tudo isso mostra que a exploração da prostituição infantil ainda é um crime sem castigo, que acontece impune, disfarçada de "atendimento ao turista" ou mostrando mesmo sua cara hedionda, sem se preocupar com disfarces. Vários anos depois de o presidente Lula eleger o combate à prostituição infantil como questão de honra de seu governo, ainda há meninas menores que vendem o corpo pelo preço irrisório de R$ 1,99, R$ 0,50 ou mesmo por um prato de comida. Apesar das promessas e dos propósitos, um levantamento recente mostra que muitas das principais organizações criminosas identificadas em 2003 pela CPI da Prostituição Infantil do Congresso não foram sequer investigadas e continuam atuando livremente.
Como sempre, as vítimas mostram a face da fraqueza maior: pobres, do sexo feminino e negras, elas continuam sendo alvo indefeso às terríveis explorações do tráfico e do sexo. O Brasil chora a inocência agredida de suas meninas. E espera medidas enérgicas e eficientes por parte de um governo que, se espera, ainda queira investir no futuro do país.
[Autora de "Simone Weil – A força e a fraqueza do amor" (Ed. Rocco).
www.users.rdc.puc-rio.br/agape]

* Teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. Publicado por ADITAL

 O que podemos fazer para ajudar a combater essa praga perversa?
 Ou o problema é apenas dos governos?

Suspeita de práticas de pedofilia, abusos sexuais contra crianças e adolescentes, prostituição infantil e juvenil, turismo sexual – não se omita! Disque-Denúncia. Disque 100 de qualquer lugar do país.
Ofereça informações. Não precisa se identificar.

Você almeja viver sem conflitos?

Deonira L. Viganó La Rosa
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia.

Conflitos são situações em que se experimentam desencontros e contradições. Em si, são normais. São neutros. Fazem parte de qualquer sistema vivo que cresce e se desenvolve, portanto, acontecem com todas as pessoas, famílias e sociedades. Os conflitos são a condição fundamental para o desenvolvimento, desde que o sistema tenha condições de resolvê-los.
A família é um sistema dentro de outro sistema maior - a Sociedade. Da interação entre os membros da família, e destes com os grupos fora da família, resultam muitas mudanças. Aquelas pessoas e grupos que mudam vão pressionar aqueles que não mudam. Estes vão reagir para conservar-se como estão. Então surgem forças contrárias – Ação e Reação - e surgem os conflitos. Quanto mais diversidade, mais conflitos. Sem esquecer que existem os conflitos internos à própria pessoa: Decidir se vou ao cinema ou ao teatro, que acontecem no mesmo dia e horário; decidir se peço aumento, já que tenho medo de ser despedido; decidir se curso medicina, ou engenharia, etc.

A negação do conflito
Negar o conflito é viver fora da realidade. É não encarar os fatos. É idealizar a própria vida, imaginando que quem ama não pode ter conflitos. É desejar a unanimidade e negar as diferenças. É manter a ordem estabelecida por medo do desconhecido. É uma maneira de defender-se do questionamento dos outros. É como ter a paz dos cemitérios onde não há vida, nem crescimento e nem dinamismo. Pode ser um indicador de que uma das pessoas está se anulando frente à outra, ou que é dominadora, não permitindo a discordância.

Vantagens e desvantagens
Oposições ajudam a construir a própria identidade. Ajudam-me a ver que não sou o dono da verdade. Oportunizam-me examinar minha imagem assim como o outro a vê. Permitem revelar minha face escondida e, sobretudo, permitem o crescimento, a evolução, a mudança. Reconheço que o outro é diferente de mim. Descubro que o outro não é feito de massa de modelar. O outro não poderia revelar-se como é se houvesse negação do afrontamento e eu não poderia conhecê-lo.
Conflitos provocam a atualização de paradigmas e a libertação das formas arcaicas de manifestação do poder do gênero masculino (e feminino).
Como desvantagem, a violência é o grande risco: uma das pessoas reage de maneira desmedida e usa todo tipo de palavra violenta e até a violência física. Ou grupos reagem violentamente contra outros.

Administrar e resolver conflitos
A capacidade de resolver conflitos é uma capacidade social essencial para a construção da paz e para poder levar uma vida útil, caracterizada por relações sinceras e solidárias. Conflitos mal resolvidos podem levar à fadiga e provocar a separação.
A recusa ao diálogo é o primeiro passo para a não resolução dos conflitos. A prática da tolerância é fundamental. Importante é conhecer alternativas de solução para as situações conflituosas e libertar-se do paradigma “ganhar-perder”, absorvendo a cooperação. Necessário
desenvolver permanentemente a capacidade do auto-controle e ter intenção de buscar a paz.

Conflitos no casal

São freqüentes: A descoberta dos defeitos do outro, a frustração: ele, ela não me compreende; detesto determinado comportamento dele(dela); ele(ela) não era assim; pensei que mudaria; será que me equivoquei casando com ele, ela?; o meu vizinho, a minha vizinha de sala sim são elegantes, delicados(as) !!!...
Problemas pessoais mal resolvidos; mau uso da liberdade; diferentes modos de lidar com a sexualidade; a comunicação (a mulher falando demais e excesso de silêncio no homem); o mau uso do dinheiro; a dificuldade de lidar com os filhos; as tarefas domésticas mal distribuídas; dificuldades em torno da profissão, do trabalho fora de casa. Enfim não admitir que homem e mulher são diferentes e não saber lidar com a diferença.

Posturas recomendadas
Para que o conflito seja aliado das pessoas, do casal e da família, e não um acelerador de rompimentos, algumas posturas são recomendadas:
Pergunte-se: O que nos afasta? O que nos aproxima? Em vez de gritar, fale de seus sentimentos e ouça as necessidades do outro; não tente que o outro entenda da mesma maneira que você entende; fale sem culpar, acusar, criticar; não demonstre desprezo (jamais); não faça chantagem; não interrompa o outro quando está falando e não discuta em lugares públicos. Sexo não resolve os problemas.
Comportamentos como culpar, desconfiar, comandar, ameaçar, desvalorizar, desconfirmar, negar o perdão e ficar ressentido servem somente para aguçar conflitos ao invés de resolvê-los.

Humanização da família

Deonira L. Viganó La Rosa
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia.

Ninguém pode agir como se existisse uma Família que pudesse viver e morrer isoladamente, como se ela tivesse realidade por si só, com independência das estruturas sociais.
A família não está simplesmente sofrendo uma crise, a família está imersa num profundo processo de transformação acompanhando as mudanças sociais, culturais, econômicas, políticas, climáticas e religiosas que, a um ritmo cada vez mais vertiginoso, modificam a sociedade. As mudanças na família e na sociedade são interdependentes.
Apesar das variadas formas que assume e das transformações que passa ao longo da história, a família permanece como condição para a humanização e socialização das pessoas. É na família que os valores são aprendidos .

Humanizar o humano?

Diz Antônio Allgayer: “Jesus era tão humano, que de tão humano só podia ser Deus”. Humanizar é um verbo que o cristão precisa conjugar em seu cotidiano. Quando ele pratica um ato humano, praticou um ato cristão. Se ele pratica um ato desumano, é anticristão.
Há pouco tempo, alguém nos surpreendeu com esta pergunta: “Humanizar? Como assim, humanizar?”
Humanizar o que já é humano parece algo contraditório. Entretanto, todo ser humano é um ser inacabado e, se é saudável, está consciente de sua inconclusão. Portanto, o homem pode sim humanizar-se (ou desumanizar-se), pois ele cresce (ou decresce) todo dia. Mas, somente a humanização – o ser mais - é a vocação do homem. A desumanização gera o 'ser menos’.
Humanizar é ter uma concepção clara de “que homem queremos construir”, isto é, “como este ser humano deve ser para ser ‘humano’”. E agir em coerência. A pessoa que vive determinados valores, como a empatia, a compaixão, a solidariedade e o cuidado, certamente será ‘humana’. Quem é ‘humano’ não pode ferir o outro porque, quando o faz, se sente ferido.
Humanizar-se é, então, evoluir. É educar-se para ser mais benévolo, mais ético, mais compassivo, mais solidário, mais empático. É um processo que dura uma vida.

Humanizar a sociedade

A humanização oferece um sentido à ação humana. Ela auxilia a quem age a explicar a si mesmo como inserido num mundo de relações sociais e políticas.
Trabalhar para que a sociedade seja humanizada nada mais é do que buscar estratégias e ações que visem colocar o ser humano, e o respeito que lhe é devido, como centro das relações políticas, comerciais, culturais. Quando estas relações giram em torno do eu, do poder e do dinheiro, fazendo do ser humano escravo destas variáveis, então a sociedade está se desumanizando.
Sabemos que o homem e a mulher, muitas vezes, geram ações desumanas, perversas e destruidoras que os desviam de sua vocação humanística. Mas, seu papel fundamental é humanizar cada vez mais o mundo, dizer não a intolerância, às culturas de opressão e de negação das diversidades. É empenhar esforços para que as necessidades de cada ser sejam humanamente satisfeitas.
Nessa luta, o papel dos pais e educadores é central, já que são eles que indicam os caminhos, apontam as situações-limites, propõem a leitura de mundo, subsidiam o corpo crítico dos filhos e alunos e colaboram na formação ético-social de pessoas que terão a missão de agir e transformar a sociedade e o mundo em que vivemos.

Sem comunicação não há humanização

Somente o modelo motivado pela solidariedade, realizado pelo encontro interpessoal e mediado pela palavra é capaz de promover a humanização.
O ser humano dispõe do grande instrumento da palavra para mediar os encontros interpessoais. A palavra precisa ter lugar mais relevante no cotidiano institucional e familiar. Desafortunadamente, ainda não usamos com eficácia a palavra. Até bem pouco tempo tínhamos que controlar a palavra para não sermos massacrados pelo autoritarismo da sociedade, da escola, da própria família. E, apesar de agora o uso da palavra estar permitido, temos resquícios que nos impedem de falar e/ou escrever, tememos expor-nos, ou vamos para o outro lado, usando a palavra para manobrar e ferir pessoas.
Importa lembrar que o sentimento vem à frente das palavras. Conseguindo colocar-se no lugar do outro, você se sensibiliza com as alegrias, as dificuldades e o sofrimento, e é isso que o torna mais humano e lhe possibilita realmente ajudar alguém. Entrar em contato com os próprios sentimentos é a base para desenvolver a empatia. Como alguém que despreza as próprias necessidades e sentimentos poderá compreender as necessidades do outro?
Uma família se humaniza quando as relações entre seus membros se tornam civilizadas (a boa educação é a fina flor da caridade), repelindo qualquer violência, oferecendo atendimento de qualidade, capaz de gestos concretos de solidariedade e de compaixão. Os pais dando o exemplo e criando ocasiões para estas práticas.

O desafio de ser mãe no século XXI

Um depoimento

Marisa de Menezes Marques*

Bom, nem todas as mulheres pensaram em ser mães quando se tornaram mães. Eu, por exemplo, não me tornei mãe quando quis e esta busca por um filho me trouxe vários questionamentos. Para quê eu queria me tornar mãe? Era realmente um desejo meu ou um dever familiar e social? E para o filho, qual o propósito de colocar alguém no mundo? Foi uma longa caminhada...

Desafios de ser mãe
no século XXI

Mas descobri em mim um desejo sincero de me tornar mãe e estar comprometida não só em conseguir um filho, mas criá-lo e educá-lo para ser também comprometido com o mundo e com ele mesmo. Tornei-me então mãe de Matheus, hoje com nove anos, meu filho biológico e mãe de Maria Gabriela, com cinco anos, minha filha adotiva. Duas formas genuínas de se tornar mãe e igualmente legítimas.

Educar traz para nós pais, muitos desafios, principalmente hoje em dia onde a gama e a rapidez de informações são muito grandes. Por isto, para mim, um dos maiores desafios, além dos limites que temos que dar diariamente, é o de poder olhar para minha família e saber o que realmente queremos para nós. E isto, implica tentar sair do sistema, deixar de pensar com a massa e com a mídia e fazer contato com os nossos reais desejos e necessidades.

Vários episódios vividos com meus filhos me fizeram pensar o que eles precisam e o que realmente é saudável para nós. Percebo que eles têm coisas com que nunca brincaram e continuam pedindo mais coisas. Minha filha me pede brinquedos que ela vê na TV que ela nem sabe o que é, mas quer pelo apelo do marketing. Crianças são alvos fáceis, mas nós adultos temos que estar atentos, identificar nossas culpas por ausências e negligências para não cairmos nesta estória ilusória de felicidade e plenitude quando adquirimos “aqueles produtos” anunciados. Se não ficarmos atentos, nos mataremos de tanto trabalhar, seremos ausentes, estressados, não estreitaremos nossos vínculos e afetos tão importantes para o desenvolvimento e relacionamento do ser humano... e para quê? Consumir, consumir, consumir?

Quando me tornei mãe, eu assumi para mim, para a família e a sociedade a missão de criar um cidadão. Uma pessoa responsável por si e pelo seu meio (familiar social e ambiental). Como isto poderia ser diferente? Mesmo que pareça ideologia o que estou falando, o que eu poderia querer de melhor para os meus filhos do que um mundo mais justo para todos?

Converso tudo o que é possível com meus filhos. Eles sempre sabem por que estou agindo daquela forma e o que estou pensando. É bastante difícil administrar hoje em dia situações em que nossos filhos nos pedem objetos ou brinquedos que eles “precisam adquirir”, pois fazem parte dos materiais de consumo do momento, caracterizando nos grupos sociais uma forma de aceitação, inclusão, pertencimento e isto para a criança e o adolescente é muito importante.

Mas em muitos casos trata-se também de uma inversão total de valores: se não cuidarmos poderão ficar insustentáveis, com consequências graves para todos. Sempre faço menção ao social e à sociedade quando penso em criação e no meu papel. Acho impossível pensar em como cuidar dos meus filhos e não cuidar do meio onde eles vivem e viverão. Claro que isto não é papel só meu. É de todos nós. É preciso que se crie essa consciência já.

Comparo muitas vezes o papel de mãe a uma profissão: somos apaixonados por ela, adoramos o que fazemos apesar de trabalharmos muito. Com dedicação, afinco, bom senso e muito amor seremos capazes de ajudar na construção de um sujeito bem estruturado e capaz de lidar bem com a própria vida.

Quem faz o mundo é o homem e quem o cria somos nós. Assim, teremos cumprido nossa tarefa.

*Psicóloga, pósgraduada em psicopedagogia.
Especialista em terapia de família e casal.

• Como reagir à pressão do consumismo na educação dos filhos?
• Está sendo difícil estabelecer limites neste modelo de sociedade?
• Há consciência da responsabilidade social das famílias em nossos dias?



Utilidade Pública. Já está funcionando a nova e moderna unidade da Rede Sarah de Hospitais, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, dedicado à reabilitação de pessoas em casos de AVC, paralisia cerebral, traumatismo cranianoencefálico, Parkinson, Alzheimer, problemas que afetam o sistema nervoso central. O Centro Internacional Sarah de Neurorreabilitação e Neurociências é referência nacional e internacional em reabilitação. O atendimento é gratuito e a consulta pode ser marcada pelo telefone (21) 3543-7600. Com 206 leitos, pode atender 20 mil pacientes por mês. Endereço: Av. Canal Arroio Pavuna.

sábado, 25 de julho de 2009

Família célula do tecido social

Helio e Selma Amorim*

Todo corpo vivo é formado por uma infinidade de células muito diferenciadas e interdependentes, dotado de mecanismos biológicos que as alimentam e desenvolvem, defendendo-as do ataque de vírus e bactérias de todo tipo. Células saudáveis formam corpos vivos saudáveis.
A sociedade também é formada por células muito especiais: pessoas humanas e famílias igualmente diferentes e interdependentes. Sofrem e resistem a ataques de todos os tipos por viverem em ambientes físicos, sociais, econômicos e culturais nem sempre propícios à sua plena humanização. Se não conseguem resistir a essas pressões externas desumanizantes, pessoas e famílias tornam-se células sociais doentes. A sociedade, no seu conjunto, se ressente dessas variadas formas de doenças.
Se o diagnóstico é uma enfermidade física, há medicamentos cada vez mais eficientes para uma terapia adequada, embora nem todos tenham como obtê-los, pelos baixos salários ou falta de emprego e precária organização dos serviços de saúde pública.
Se se trata de desvios graves de comportamento, a sociedade reprime e exclui essas células do seu convívio, superlotando desumanamente pessoas humanas em prisões degradantes que agravarão a doença sem buscar a recuperação da sua saúde. Isto não se aplica às células ricas capazes de contratar advogados caros e voltar a agredir a sociedade em impune liberdade.
Mas se a radiografia indica marginalização ou exclusão social por extrema pobreza, as ações da sociedade terão que ser mais amplas, corajosas e efetivas. Trata-se de uma enfermidade social que atinge toda a sociedade, gerando múltiplos vírus e bactérias mortais: debilidade do tecido social, violência, conflitos - e guerras mundo afora.
Para humanizar esse modelo de sociedade capaz de marginalizar e excluir e não de tornar saudáveis tantas células enfermas, só resolvem reformas estruturais econômicas e sociais profundas. Entretanto as partes saudáveis desse corpo parecem não se dar conta do perigo da pandemia causada pelas cruéis desigualdades entre classes sociais. Impõe-se curar o sistema como um todo: o corpo celular e o ambiente em que vive. Avançar além dos passos prévios e necessários de dar o peixe e ensinar a pescar. Mudar o modelo socioeconômico injusto para que o dono do pesqueiro não tire o peixe das mãos do pescador e lhe pague o que não dá para comprar o peixe que pescou.
A família é a célula mais complexa do tecido social. Porque é tão capaz de cultivar e assegurar a própria saúde como de adoecer por si mesma, por falhas de comportamento dos seus componentes moleculares ou por não conseguir resistir a fatores externos desagregadores. São relações intrafamiliares conflitivas e desumanizantes, é a alienação social e política de seus membros, é a falta de compromisso com a construção de um mundo possível mais justo, fraterno e igualitário que os cristãos chamam de Reino de Deus, antecipado na história humana (“venha a nós”).
A missão de cada família para ser uma célula saudável da sociedade é portanto a formação de pessoas maduras, adultas, capazes de amar e relacionar-se socialmente de forma construtiva, comprometidas profeticamente com o bem comum, agindo com base em sólidos valores éticos, transmitidos entre seus membros: de pais para filhos, de filhos para pais, de todos para todos.
A lista de valores não é pequena: honestidade, sensibilidade social, compromisso com transformações humanizadoras da sociedade, resistência às pressões externas que debilitam e desagregam, capacidade de indignação frente a injustiças, coragem de se expor aos riscos próprios do profetismo cristão: anunciar a boa nova de um novo mundo justo possível e denunciar tudo o que se opõe à irrupção do Reino, aqui e agora.

*Membros do Movimento Familiar Cristão (MFC) e do Instituto da Família (INFA).