sábado, 25 de julho de 2009

Família célula do tecido social

Helio e Selma Amorim*

Todo corpo vivo é formado por uma infinidade de células muito diferenciadas e interdependentes, dotado de mecanismos biológicos que as alimentam e desenvolvem, defendendo-as do ataque de vírus e bactérias de todo tipo. Células saudáveis formam corpos vivos saudáveis.
A sociedade também é formada por células muito especiais: pessoas humanas e famílias igualmente diferentes e interdependentes. Sofrem e resistem a ataques de todos os tipos por viverem em ambientes físicos, sociais, econômicos e culturais nem sempre propícios à sua plena humanização. Se não conseguem resistir a essas pressões externas desumanizantes, pessoas e famílias tornam-se células sociais doentes. A sociedade, no seu conjunto, se ressente dessas variadas formas de doenças.
Se o diagnóstico é uma enfermidade física, há medicamentos cada vez mais eficientes para uma terapia adequada, embora nem todos tenham como obtê-los, pelos baixos salários ou falta de emprego e precária organização dos serviços de saúde pública.
Se se trata de desvios graves de comportamento, a sociedade reprime e exclui essas células do seu convívio, superlotando desumanamente pessoas humanas em prisões degradantes que agravarão a doença sem buscar a recuperação da sua saúde. Isto não se aplica às células ricas capazes de contratar advogados caros e voltar a agredir a sociedade em impune liberdade.
Mas se a radiografia indica marginalização ou exclusão social por extrema pobreza, as ações da sociedade terão que ser mais amplas, corajosas e efetivas. Trata-se de uma enfermidade social que atinge toda a sociedade, gerando múltiplos vírus e bactérias mortais: debilidade do tecido social, violência, conflitos - e guerras mundo afora.
Para humanizar esse modelo de sociedade capaz de marginalizar e excluir e não de tornar saudáveis tantas células enfermas, só resolvem reformas estruturais econômicas e sociais profundas. Entretanto as partes saudáveis desse corpo parecem não se dar conta do perigo da pandemia causada pelas cruéis desigualdades entre classes sociais. Impõe-se curar o sistema como um todo: o corpo celular e o ambiente em que vive. Avançar além dos passos prévios e necessários de dar o peixe e ensinar a pescar. Mudar o modelo socioeconômico injusto para que o dono do pesqueiro não tire o peixe das mãos do pescador e lhe pague o que não dá para comprar o peixe que pescou.
A família é a célula mais complexa do tecido social. Porque é tão capaz de cultivar e assegurar a própria saúde como de adoecer por si mesma, por falhas de comportamento dos seus componentes moleculares ou por não conseguir resistir a fatores externos desagregadores. São relações intrafamiliares conflitivas e desumanizantes, é a alienação social e política de seus membros, é a falta de compromisso com a construção de um mundo possível mais justo, fraterno e igualitário que os cristãos chamam de Reino de Deus, antecipado na história humana (“venha a nós”).
A missão de cada família para ser uma célula saudável da sociedade é portanto a formação de pessoas maduras, adultas, capazes de amar e relacionar-se socialmente de forma construtiva, comprometidas profeticamente com o bem comum, agindo com base em sólidos valores éticos, transmitidos entre seus membros: de pais para filhos, de filhos para pais, de todos para todos.
A lista de valores não é pequena: honestidade, sensibilidade social, compromisso com transformações humanizadoras da sociedade, resistência às pressões externas que debilitam e desagregam, capacidade de indignação frente a injustiças, coragem de se expor aos riscos próprios do profetismo cristão: anunciar a boa nova de um novo mundo justo possível e denunciar tudo o que se opõe à irrupção do Reino, aqui e agora.

*Membros do Movimento Familiar Cristão (MFC) e do Instituto da Família (INFA).

2 comentários:

  1. Quais as dificulkdades para a família cumprir essa missão intransferível?
    Helio Amorim

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  2. É preciso despertar a consciência crítica dos jovens na família.
    Selma

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