domingo, 26 de julho de 2009

Sexualidade: o desejo do outro

Deonira L. Viganó La Rosa.
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia.

Por que sexualidade e violência frequentemente estão relacionadas, se cada um dos cônjuges aspira à união total e pacífica com seu eleito? Por que esta harmonia dos corpos não acontece sempre naturalmente, quando um amor forte une os cônjuges?

Com efeito, para certos casais, não é suficiente amarem-se apaixonadamente para conseguirem uma vida sexual satisfatória; as dificuldades sexuais que muitas vezes são sentidas por um ou por outro como falta de amor, na verdade podem ter bem outras causas... E o que faz mal ao casal e o faz sofrer é constatar que seu amor é impotente para tornar harmoniosas suas relações íntimas.
Todo encontro sexual acontece no mistério
A relação sexual é o encontro do outro na sua radical diferença: isto implica que cada um esteja suficientemente à vontade com sua própria sexualidade para poder acolher a sexualidade do outro sem medo, e sem negar a sua. Estar feliz em ser aquilo que a natureza o fez, homem ou mulher, é a primeira condição para uma boa integração da sexualidade. Esta integração não surge de repente mas é construída passo a passo ao longo do tempo, em base à educação e à história de cada um, e não está jamais concluída ou perfeita; ela tem suas cicatrizes que podem reavivar-se sem, contudo, estar conscientes.
A mulher e o homem sempre vão viver de maneira diferente suas experiências sexuais. O que cada um sente não é totalmente entendido pelo outro. A mulher não pode senão interrogar-se sobre o que é a virilidade, e para o homem, a feminilidade permanece misteriosa. É justamente esta parte desconhecida e misteriosa, estranha para o outro, que faz acontecer a atração, mas também deixa pairar uma apreensão difusa que, em certas circunstâncias, pode transformar-se em angústia e suscitar movimentos de defesa, senão de agressividade.
Aparecem dificuldades de âmbito sexual ...
Há períodos em que a harmonia deixa a desejar, mas isto não é preocupante. Entretanto, isto se torna prejudicial ao casal quando ele se resigna, banalizando ou justificando o fato, já que a relação sexual é um meio privilegiado de expressar o amor e de confirmar a identidade sexual do parceiro. A vida sexual não só expressa, como fomenta o amor. Lamentavelmente, marido e mulher pouco se falam sobre questões relativas a esta área.
Ao terapeuta, mulheres relatam sentirem-se humilhadas quando para seus maridos não passam de um objeto sexual. Outras dizem sentirem-se humilhadas porque seus maridos já não as percebem como mulheres: ‘Serei ainda uma mulher para ele? Eu não duvido de seu amor: ele me ama como a uma mãe, mas eu quero ser amada como mulher’. Homens também se sentem feridos em sua virilidade quando o olhar de sua mulher já não exprime o desejo de dar-lhes prazer.

Quem são estes homens, estas mulheres, que não querem ser tratados como objetos?

O homem e a mulher pertencem ao mundo das pessoas, o mundo dos sujeitos, radicalmente distinto do mundo dos animais e das coisas. A pessoa do outro é o único ser visível ao seu redor que é, como você próprio, um sujeito. Os comportamentos ditados pela cobiça do outro lesam gravemente seu direito a ser reconhecido e tratado como sujeito pessoal. Isso acontece particularmente na relação sexual.
Aqui se pode compreender a profundidade do apelo à ternura na relação amorosa, apelo que às vezes se exprime indiretamente, até mesmo através de uma recusa, ou pela revolta ou raiva quando um se sente tratado como objeto pelo outro. É o grito do corpo que quer ser amado, tocado com ternura pelo outro.

O grito do corpo é o grito da pessoa.

Enquanto o olhar de volúpia sobre o corpo o coisifica e o fere profundamente, o olhar de ternura se dirige à pessoa toda inteira e reconhece sua beleza e a revela.
O olhar de ternura não é um olhar interessado, mas um olhar amoroso, maravilhado, sob o qual o ser amado se sente reconhecido. Longe de ser somente a gratidão sexual pelo prazer recebido, a ternura que jorra da afetividade é também uma autêntica atitude pessoal, do ser por inteiro.
A afetividade faz o homem sair de si para estar à escuta das mínimas manifestações de sua mulher e faz a mulher ultrapassar-se para sair de sua passividade e mostrar toda ternura a seu marido. A ternura assim expressa permite a ambos viverem a relação sexual como uma verdadeira relação interpessoal.

 Não seria bom conversar quando essa harmonia deixa a desejar?
 Há pessoas que poderíamos orientar nessa questão delicada? Como?

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