quarta-feira, 29 de julho de 2009

Denúncias de abuso sexual de menores sobem 183%

Cresce a confiança no Disque 100 para denúncias. No primeiro semestre de 2008 foram 166 denúncias. Neste mesmo semestre de 2009 são 471, ou seja, 77% do total das 660 denúncias recebidas, que incluem abusos sexuais contra mulheres adultas. Segundo Michelle Jorge, gerente do Núcleo de Violência Contra a Mulher, do Disque-Denúncia, o crescimento se deve à maior divulgação e à confiança das pessoas nesse serviço, que não exige a identificação do denunciante.

domingo, 26 de julho de 2009

Denúncias de exploração de menores

Denuncie!
Disque 100 de qualquer parte do Brasil.
Não precisa identificar-se.
Providências serão tomadas sigilosamente.
Não se omita. Salve uma criança ou adolescente.

Graus impensáveis de perversidade

Helio e Selma Amorim*

Quando pensávamos já ter a exploração sexual de menores chegado ao limite da estupidez, uma quadrilha desbaratada pela polícia em SP confessa seus crimes hediondos.

Para atender as preferências de tarados sexuais que incluem a procura de travestis de menos de 14 anos, os bandidos têm uma força-tarefa que alicia meninos de boa aparência em cidades das regiões mais pobres do país com a promessa de trabalho em São Paulo. As famílias são enganadas e ganham esperança de dias melhores para os filhos. Ou simplesmente são sequestrados.

Entra em ação outra equipe, a que transporta os meninos para a cidade grande, recebidos pela quadrilha da ponta, aquela que prepara as crianças para a prostituição infantojuvenil.

A preparação começa com a intimidação e promessa de ganhos. Segue a adequação física dos meninos, com o uso de hormônios que arredondam as suas formas e asseguram rostos imberbes, silicone para modelar os seios, crescem os cabelos. Como quem engorda um porco ou peru que será servido no Natal. Logo vestirão roupas femininas provocantes e passarão às ruas para o trabalho escravo degradante. Os tarados pedófilos chegam e consomem o produto desejado, pagam mal. Voltarão amanhã. Os meninos-travestis não terão mais chances de fuga ou de retorno para casa: a família nem reconheceria a criança ou adolescente metamorfosiado.

Difícil acreditar em tamanha deformação moral nessa prática hediondamente criminosa com efeitos terríveis, talvez irreversíveis, na vida dessas pobres vítimas. Infelizmente é real, filmada e televisada às oito da noite, pela Band, para horror de telespectadores horrorizados em suas poltronas depois do jantar. Metade da quadrilha está presa e confessou. A outra metade está foragida mas identificada, depois de meses de investigação. Ponto para a polícia.

Restam muitos problemas: onde acolher e como assistir as vítimas, profundamente feridas e deformadas física e psiquicamente; como desmontar outras quadrilhas que provavelmente estejam nesse ramo de negócio naquela e em tantas outras cidades; o que fazer como cidadão comprometido com o bem comum. Autoridades políticas e policiais parecem perdidas diante do tamanho social e geográfico do problema. As pessoas de boa vontade não dispõem de instrumentos eficazes para a atuação individual na cura dessa ferida social, a não ser na ajuda pontual em casos de vítimas próximas. Melhor e mais efetivamente integrando-se em entidades sociais intermediárias que se dediquem à luta pelos direitos da infância e adolescência.

O que também pode fazer facilmente como responsabilidade social cidadã será a denúncia de casos comprovados ou mesmo apenas suspeitos de práticas de pedofilia na vizinhança, abusos sexuais com crianças – muitas vezes dentro das famílias – e a prática hedionda da exploração da prostituição infantil. Não se omita. Use o telefone. Talvez alguém se salve por sua intervenção.

*Membros do MFC e Instituto da Família - INFA

Disque-denúncia: abusos sexuais contra crianças e adolescentes

Sexualidade: o desejo do outro

Deonira L. Viganó La Rosa.
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia.

Por que sexualidade e violência frequentemente estão relacionadas, se cada um dos cônjuges aspira à união total e pacífica com seu eleito? Por que esta harmonia dos corpos não acontece sempre naturalmente, quando um amor forte une os cônjuges?

Com efeito, para certos casais, não é suficiente amarem-se apaixonadamente para conseguirem uma vida sexual satisfatória; as dificuldades sexuais que muitas vezes são sentidas por um ou por outro como falta de amor, na verdade podem ter bem outras causas... E o que faz mal ao casal e o faz sofrer é constatar que seu amor é impotente para tornar harmoniosas suas relações íntimas.
Todo encontro sexual acontece no mistério
A relação sexual é o encontro do outro na sua radical diferença: isto implica que cada um esteja suficientemente à vontade com sua própria sexualidade para poder acolher a sexualidade do outro sem medo, e sem negar a sua. Estar feliz em ser aquilo que a natureza o fez, homem ou mulher, é a primeira condição para uma boa integração da sexualidade. Esta integração não surge de repente mas é construída passo a passo ao longo do tempo, em base à educação e à história de cada um, e não está jamais concluída ou perfeita; ela tem suas cicatrizes que podem reavivar-se sem, contudo, estar conscientes.
A mulher e o homem sempre vão viver de maneira diferente suas experiências sexuais. O que cada um sente não é totalmente entendido pelo outro. A mulher não pode senão interrogar-se sobre o que é a virilidade, e para o homem, a feminilidade permanece misteriosa. É justamente esta parte desconhecida e misteriosa, estranha para o outro, que faz acontecer a atração, mas também deixa pairar uma apreensão difusa que, em certas circunstâncias, pode transformar-se em angústia e suscitar movimentos de defesa, senão de agressividade.
Aparecem dificuldades de âmbito sexual ...
Há períodos em que a harmonia deixa a desejar, mas isto não é preocupante. Entretanto, isto se torna prejudicial ao casal quando ele se resigna, banalizando ou justificando o fato, já que a relação sexual é um meio privilegiado de expressar o amor e de confirmar a identidade sexual do parceiro. A vida sexual não só expressa, como fomenta o amor. Lamentavelmente, marido e mulher pouco se falam sobre questões relativas a esta área.
Ao terapeuta, mulheres relatam sentirem-se humilhadas quando para seus maridos não passam de um objeto sexual. Outras dizem sentirem-se humilhadas porque seus maridos já não as percebem como mulheres: ‘Serei ainda uma mulher para ele? Eu não duvido de seu amor: ele me ama como a uma mãe, mas eu quero ser amada como mulher’. Homens também se sentem feridos em sua virilidade quando o olhar de sua mulher já não exprime o desejo de dar-lhes prazer.

Quem são estes homens, estas mulheres, que não querem ser tratados como objetos?

O homem e a mulher pertencem ao mundo das pessoas, o mundo dos sujeitos, radicalmente distinto do mundo dos animais e das coisas. A pessoa do outro é o único ser visível ao seu redor que é, como você próprio, um sujeito. Os comportamentos ditados pela cobiça do outro lesam gravemente seu direito a ser reconhecido e tratado como sujeito pessoal. Isso acontece particularmente na relação sexual.
Aqui se pode compreender a profundidade do apelo à ternura na relação amorosa, apelo que às vezes se exprime indiretamente, até mesmo através de uma recusa, ou pela revolta ou raiva quando um se sente tratado como objeto pelo outro. É o grito do corpo que quer ser amado, tocado com ternura pelo outro.

O grito do corpo é o grito da pessoa.

Enquanto o olhar de volúpia sobre o corpo o coisifica e o fere profundamente, o olhar de ternura se dirige à pessoa toda inteira e reconhece sua beleza e a revela.
O olhar de ternura não é um olhar interessado, mas um olhar amoroso, maravilhado, sob o qual o ser amado se sente reconhecido. Longe de ser somente a gratidão sexual pelo prazer recebido, a ternura que jorra da afetividade é também uma autêntica atitude pessoal, do ser por inteiro.
A afetividade faz o homem sair de si para estar à escuta das mínimas manifestações de sua mulher e faz a mulher ultrapassar-se para sair de sua passividade e mostrar toda ternura a seu marido. A ternura assim expressa permite a ambos viverem a relação sexual como uma verdadeira relação interpessoal.

 Não seria bom conversar quando essa harmonia deixa a desejar?
 Há pessoas que poderíamos orientar nessa questão delicada? Como?

Infância violentada

Maria Clara Lucchetti Bingemer *

Em meio a todas as vicissitudes por que passa o Brasil, imaginamos que não há nada mais capaz de chocar-nos além do que já estamos todos enojados e estarrecidos. Mas, infelizmente, há sempre horrores a surpreender-nos ainda mais.

A vereadora Liliam Sá, do Paraná, declarou na CPI do Turismo Sexual que há denúncias de pontos de prostituição infantil em vários pontos do estado do Rio de Janeiro. Também chegaram à CPI informações de que há meninas se prostituindo em Sepetiba por R$ 1,99. Ao lado e além do fato, triste e desalentador, há a cifra que espanta pelo simbolismo que carrega em si.

Há muitos anos, a cifra R$ 1,99 virou um símbolo da estabilidade econômica popularizado em milhares de lojas de todo o país. O Plano Real ganhava credibilidade e o consumidor brasileiro via com tranqüilidade crescente artigos vendidos a R$ 1, 99, mostrando que se podia confiar no modelo econômico brasileiro, que saíra definitivamente da inflação galopante em que estivemos mergulhados durante longos anos. Agora R$ 1,99 denuncia uma espantosa instabilidade: a do nível de segurança em que vive grande quantidade de crianças e adolescentes em nosso país.
No ano passado, lemos espantados na grande imprensa a notícia de que a cifra R$ 1,99 tinha, nas cidades de Curitiba e Paranaguá, conotação bem diferente que a de calmaria econômica no cenário brasileiro. A simbólica e positiva cifra significa a maneira pela qual são conhecidas algumas ruas dessas cidades paranaenses onde meninas de 11 ou 12 anos - muitas já envolvidas com drogas - fazem programas ao ar livre por R$ 1,99 ou outros valores irrisórios.
Estreitamente ligado ao problema da prostituição infantil está, portanto, o imenso monstro da droga e do narcotráfico. Muitas dessas meninas se prostituem para obter droga. Por causa do crack que precisam cheirar e/ou vender, fazem sexo por qualquer dinheiro. Os clientes são caminhoneiros que param em postos de gasolina à margem das estradas federais. Ou marinheiros, em geral estrangeiros, que lotam bordéis na área do porto. No Rio de Janeiro, recentemente, a Polícia Rodoviária Federal identificou 1.918 pontos vulneráveis à ocorrência de casos de violência sexual contra crianças ao longo dos mais de 60 mil km de rodovias federais.
Tudo isso mostra que a exploração da prostituição infantil ainda é um crime sem castigo, que acontece impune, disfarçada de "atendimento ao turista" ou mostrando mesmo sua cara hedionda, sem se preocupar com disfarces. Vários anos depois de o presidente Lula eleger o combate à prostituição infantil como questão de honra de seu governo, ainda há meninas menores que vendem o corpo pelo preço irrisório de R$ 1,99, R$ 0,50 ou mesmo por um prato de comida. Apesar das promessas e dos propósitos, um levantamento recente mostra que muitas das principais organizações criminosas identificadas em 2003 pela CPI da Prostituição Infantil do Congresso não foram sequer investigadas e continuam atuando livremente.
Como sempre, as vítimas mostram a face da fraqueza maior: pobres, do sexo feminino e negras, elas continuam sendo alvo indefeso às terríveis explorações do tráfico e do sexo. O Brasil chora a inocência agredida de suas meninas. E espera medidas enérgicas e eficientes por parte de um governo que, se espera, ainda queira investir no futuro do país.
[Autora de "Simone Weil – A força e a fraqueza do amor" (Ed. Rocco).
www.users.rdc.puc-rio.br/agape]

* Teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. Publicado por ADITAL

 O que podemos fazer para ajudar a combater essa praga perversa?
 Ou o problema é apenas dos governos?

Suspeita de práticas de pedofilia, abusos sexuais contra crianças e adolescentes, prostituição infantil e juvenil, turismo sexual – não se omita! Disque-Denúncia. Disque 100 de qualquer lugar do país.
Ofereça informações. Não precisa se identificar.

Você almeja viver sem conflitos?

Deonira L. Viganó La Rosa
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia.

Conflitos são situações em que se experimentam desencontros e contradições. Em si, são normais. São neutros. Fazem parte de qualquer sistema vivo que cresce e se desenvolve, portanto, acontecem com todas as pessoas, famílias e sociedades. Os conflitos são a condição fundamental para o desenvolvimento, desde que o sistema tenha condições de resolvê-los.
A família é um sistema dentro de outro sistema maior - a Sociedade. Da interação entre os membros da família, e destes com os grupos fora da família, resultam muitas mudanças. Aquelas pessoas e grupos que mudam vão pressionar aqueles que não mudam. Estes vão reagir para conservar-se como estão. Então surgem forças contrárias – Ação e Reação - e surgem os conflitos. Quanto mais diversidade, mais conflitos. Sem esquecer que existem os conflitos internos à própria pessoa: Decidir se vou ao cinema ou ao teatro, que acontecem no mesmo dia e horário; decidir se peço aumento, já que tenho medo de ser despedido; decidir se curso medicina, ou engenharia, etc.

A negação do conflito
Negar o conflito é viver fora da realidade. É não encarar os fatos. É idealizar a própria vida, imaginando que quem ama não pode ter conflitos. É desejar a unanimidade e negar as diferenças. É manter a ordem estabelecida por medo do desconhecido. É uma maneira de defender-se do questionamento dos outros. É como ter a paz dos cemitérios onde não há vida, nem crescimento e nem dinamismo. Pode ser um indicador de que uma das pessoas está se anulando frente à outra, ou que é dominadora, não permitindo a discordância.

Vantagens e desvantagens
Oposições ajudam a construir a própria identidade. Ajudam-me a ver que não sou o dono da verdade. Oportunizam-me examinar minha imagem assim como o outro a vê. Permitem revelar minha face escondida e, sobretudo, permitem o crescimento, a evolução, a mudança. Reconheço que o outro é diferente de mim. Descubro que o outro não é feito de massa de modelar. O outro não poderia revelar-se como é se houvesse negação do afrontamento e eu não poderia conhecê-lo.
Conflitos provocam a atualização de paradigmas e a libertação das formas arcaicas de manifestação do poder do gênero masculino (e feminino).
Como desvantagem, a violência é o grande risco: uma das pessoas reage de maneira desmedida e usa todo tipo de palavra violenta e até a violência física. Ou grupos reagem violentamente contra outros.

Administrar e resolver conflitos
A capacidade de resolver conflitos é uma capacidade social essencial para a construção da paz e para poder levar uma vida útil, caracterizada por relações sinceras e solidárias. Conflitos mal resolvidos podem levar à fadiga e provocar a separação.
A recusa ao diálogo é o primeiro passo para a não resolução dos conflitos. A prática da tolerância é fundamental. Importante é conhecer alternativas de solução para as situações conflituosas e libertar-se do paradigma “ganhar-perder”, absorvendo a cooperação. Necessário
desenvolver permanentemente a capacidade do auto-controle e ter intenção de buscar a paz.

Conflitos no casal

São freqüentes: A descoberta dos defeitos do outro, a frustração: ele, ela não me compreende; detesto determinado comportamento dele(dela); ele(ela) não era assim; pensei que mudaria; será que me equivoquei casando com ele, ela?; o meu vizinho, a minha vizinha de sala sim são elegantes, delicados(as) !!!...
Problemas pessoais mal resolvidos; mau uso da liberdade; diferentes modos de lidar com a sexualidade; a comunicação (a mulher falando demais e excesso de silêncio no homem); o mau uso do dinheiro; a dificuldade de lidar com os filhos; as tarefas domésticas mal distribuídas; dificuldades em torno da profissão, do trabalho fora de casa. Enfim não admitir que homem e mulher são diferentes e não saber lidar com a diferença.

Posturas recomendadas
Para que o conflito seja aliado das pessoas, do casal e da família, e não um acelerador de rompimentos, algumas posturas são recomendadas:
Pergunte-se: O que nos afasta? O que nos aproxima? Em vez de gritar, fale de seus sentimentos e ouça as necessidades do outro; não tente que o outro entenda da mesma maneira que você entende; fale sem culpar, acusar, criticar; não demonstre desprezo (jamais); não faça chantagem; não interrompa o outro quando está falando e não discuta em lugares públicos. Sexo não resolve os problemas.
Comportamentos como culpar, desconfiar, comandar, ameaçar, desvalorizar, desconfirmar, negar o perdão e ficar ressentido servem somente para aguçar conflitos ao invés de resolvê-los.

Humanização da família

Deonira L. Viganó La Rosa
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia.

Ninguém pode agir como se existisse uma Família que pudesse viver e morrer isoladamente, como se ela tivesse realidade por si só, com independência das estruturas sociais.
A família não está simplesmente sofrendo uma crise, a família está imersa num profundo processo de transformação acompanhando as mudanças sociais, culturais, econômicas, políticas, climáticas e religiosas que, a um ritmo cada vez mais vertiginoso, modificam a sociedade. As mudanças na família e na sociedade são interdependentes.
Apesar das variadas formas que assume e das transformações que passa ao longo da história, a família permanece como condição para a humanização e socialização das pessoas. É na família que os valores são aprendidos .

Humanizar o humano?

Diz Antônio Allgayer: “Jesus era tão humano, que de tão humano só podia ser Deus”. Humanizar é um verbo que o cristão precisa conjugar em seu cotidiano. Quando ele pratica um ato humano, praticou um ato cristão. Se ele pratica um ato desumano, é anticristão.
Há pouco tempo, alguém nos surpreendeu com esta pergunta: “Humanizar? Como assim, humanizar?”
Humanizar o que já é humano parece algo contraditório. Entretanto, todo ser humano é um ser inacabado e, se é saudável, está consciente de sua inconclusão. Portanto, o homem pode sim humanizar-se (ou desumanizar-se), pois ele cresce (ou decresce) todo dia. Mas, somente a humanização – o ser mais - é a vocação do homem. A desumanização gera o 'ser menos’.
Humanizar é ter uma concepção clara de “que homem queremos construir”, isto é, “como este ser humano deve ser para ser ‘humano’”. E agir em coerência. A pessoa que vive determinados valores, como a empatia, a compaixão, a solidariedade e o cuidado, certamente será ‘humana’. Quem é ‘humano’ não pode ferir o outro porque, quando o faz, se sente ferido.
Humanizar-se é, então, evoluir. É educar-se para ser mais benévolo, mais ético, mais compassivo, mais solidário, mais empático. É um processo que dura uma vida.

Humanizar a sociedade

A humanização oferece um sentido à ação humana. Ela auxilia a quem age a explicar a si mesmo como inserido num mundo de relações sociais e políticas.
Trabalhar para que a sociedade seja humanizada nada mais é do que buscar estratégias e ações que visem colocar o ser humano, e o respeito que lhe é devido, como centro das relações políticas, comerciais, culturais. Quando estas relações giram em torno do eu, do poder e do dinheiro, fazendo do ser humano escravo destas variáveis, então a sociedade está se desumanizando.
Sabemos que o homem e a mulher, muitas vezes, geram ações desumanas, perversas e destruidoras que os desviam de sua vocação humanística. Mas, seu papel fundamental é humanizar cada vez mais o mundo, dizer não a intolerância, às culturas de opressão e de negação das diversidades. É empenhar esforços para que as necessidades de cada ser sejam humanamente satisfeitas.
Nessa luta, o papel dos pais e educadores é central, já que são eles que indicam os caminhos, apontam as situações-limites, propõem a leitura de mundo, subsidiam o corpo crítico dos filhos e alunos e colaboram na formação ético-social de pessoas que terão a missão de agir e transformar a sociedade e o mundo em que vivemos.

Sem comunicação não há humanização

Somente o modelo motivado pela solidariedade, realizado pelo encontro interpessoal e mediado pela palavra é capaz de promover a humanização.
O ser humano dispõe do grande instrumento da palavra para mediar os encontros interpessoais. A palavra precisa ter lugar mais relevante no cotidiano institucional e familiar. Desafortunadamente, ainda não usamos com eficácia a palavra. Até bem pouco tempo tínhamos que controlar a palavra para não sermos massacrados pelo autoritarismo da sociedade, da escola, da própria família. E, apesar de agora o uso da palavra estar permitido, temos resquícios que nos impedem de falar e/ou escrever, tememos expor-nos, ou vamos para o outro lado, usando a palavra para manobrar e ferir pessoas.
Importa lembrar que o sentimento vem à frente das palavras. Conseguindo colocar-se no lugar do outro, você se sensibiliza com as alegrias, as dificuldades e o sofrimento, e é isso que o torna mais humano e lhe possibilita realmente ajudar alguém. Entrar em contato com os próprios sentimentos é a base para desenvolver a empatia. Como alguém que despreza as próprias necessidades e sentimentos poderá compreender as necessidades do outro?
Uma família se humaniza quando as relações entre seus membros se tornam civilizadas (a boa educação é a fina flor da caridade), repelindo qualquer violência, oferecendo atendimento de qualidade, capaz de gestos concretos de solidariedade e de compaixão. Os pais dando o exemplo e criando ocasiões para estas práticas.

O desafio de ser mãe no século XXI

Um depoimento

Marisa de Menezes Marques*

Bom, nem todas as mulheres pensaram em ser mães quando se tornaram mães. Eu, por exemplo, não me tornei mãe quando quis e esta busca por um filho me trouxe vários questionamentos. Para quê eu queria me tornar mãe? Era realmente um desejo meu ou um dever familiar e social? E para o filho, qual o propósito de colocar alguém no mundo? Foi uma longa caminhada...

Desafios de ser mãe
no século XXI

Mas descobri em mim um desejo sincero de me tornar mãe e estar comprometida não só em conseguir um filho, mas criá-lo e educá-lo para ser também comprometido com o mundo e com ele mesmo. Tornei-me então mãe de Matheus, hoje com nove anos, meu filho biológico e mãe de Maria Gabriela, com cinco anos, minha filha adotiva. Duas formas genuínas de se tornar mãe e igualmente legítimas.

Educar traz para nós pais, muitos desafios, principalmente hoje em dia onde a gama e a rapidez de informações são muito grandes. Por isto, para mim, um dos maiores desafios, além dos limites que temos que dar diariamente, é o de poder olhar para minha família e saber o que realmente queremos para nós. E isto, implica tentar sair do sistema, deixar de pensar com a massa e com a mídia e fazer contato com os nossos reais desejos e necessidades.

Vários episódios vividos com meus filhos me fizeram pensar o que eles precisam e o que realmente é saudável para nós. Percebo que eles têm coisas com que nunca brincaram e continuam pedindo mais coisas. Minha filha me pede brinquedos que ela vê na TV que ela nem sabe o que é, mas quer pelo apelo do marketing. Crianças são alvos fáceis, mas nós adultos temos que estar atentos, identificar nossas culpas por ausências e negligências para não cairmos nesta estória ilusória de felicidade e plenitude quando adquirimos “aqueles produtos” anunciados. Se não ficarmos atentos, nos mataremos de tanto trabalhar, seremos ausentes, estressados, não estreitaremos nossos vínculos e afetos tão importantes para o desenvolvimento e relacionamento do ser humano... e para quê? Consumir, consumir, consumir?

Quando me tornei mãe, eu assumi para mim, para a família e a sociedade a missão de criar um cidadão. Uma pessoa responsável por si e pelo seu meio (familiar social e ambiental). Como isto poderia ser diferente? Mesmo que pareça ideologia o que estou falando, o que eu poderia querer de melhor para os meus filhos do que um mundo mais justo para todos?

Converso tudo o que é possível com meus filhos. Eles sempre sabem por que estou agindo daquela forma e o que estou pensando. É bastante difícil administrar hoje em dia situações em que nossos filhos nos pedem objetos ou brinquedos que eles “precisam adquirir”, pois fazem parte dos materiais de consumo do momento, caracterizando nos grupos sociais uma forma de aceitação, inclusão, pertencimento e isto para a criança e o adolescente é muito importante.

Mas em muitos casos trata-se também de uma inversão total de valores: se não cuidarmos poderão ficar insustentáveis, com consequências graves para todos. Sempre faço menção ao social e à sociedade quando penso em criação e no meu papel. Acho impossível pensar em como cuidar dos meus filhos e não cuidar do meio onde eles vivem e viverão. Claro que isto não é papel só meu. É de todos nós. É preciso que se crie essa consciência já.

Comparo muitas vezes o papel de mãe a uma profissão: somos apaixonados por ela, adoramos o que fazemos apesar de trabalharmos muito. Com dedicação, afinco, bom senso e muito amor seremos capazes de ajudar na construção de um sujeito bem estruturado e capaz de lidar bem com a própria vida.

Quem faz o mundo é o homem e quem o cria somos nós. Assim, teremos cumprido nossa tarefa.

*Psicóloga, pósgraduada em psicopedagogia.
Especialista em terapia de família e casal.

• Como reagir à pressão do consumismo na educação dos filhos?
• Está sendo difícil estabelecer limites neste modelo de sociedade?
• Há consciência da responsabilidade social das famílias em nossos dias?



Utilidade Pública. Já está funcionando a nova e moderna unidade da Rede Sarah de Hospitais, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, dedicado à reabilitação de pessoas em casos de AVC, paralisia cerebral, traumatismo cranianoencefálico, Parkinson, Alzheimer, problemas que afetam o sistema nervoso central. O Centro Internacional Sarah de Neurorreabilitação e Neurociências é referência nacional e internacional em reabilitação. O atendimento é gratuito e a consulta pode ser marcada pelo telefone (21) 3543-7600. Com 206 leitos, pode atender 20 mil pacientes por mês. Endereço: Av. Canal Arroio Pavuna.

sábado, 25 de julho de 2009

Família célula do tecido social

Helio e Selma Amorim*

Todo corpo vivo é formado por uma infinidade de células muito diferenciadas e interdependentes, dotado de mecanismos biológicos que as alimentam e desenvolvem, defendendo-as do ataque de vírus e bactérias de todo tipo. Células saudáveis formam corpos vivos saudáveis.
A sociedade também é formada por células muito especiais: pessoas humanas e famílias igualmente diferentes e interdependentes. Sofrem e resistem a ataques de todos os tipos por viverem em ambientes físicos, sociais, econômicos e culturais nem sempre propícios à sua plena humanização. Se não conseguem resistir a essas pressões externas desumanizantes, pessoas e famílias tornam-se células sociais doentes. A sociedade, no seu conjunto, se ressente dessas variadas formas de doenças.
Se o diagnóstico é uma enfermidade física, há medicamentos cada vez mais eficientes para uma terapia adequada, embora nem todos tenham como obtê-los, pelos baixos salários ou falta de emprego e precária organização dos serviços de saúde pública.
Se se trata de desvios graves de comportamento, a sociedade reprime e exclui essas células do seu convívio, superlotando desumanamente pessoas humanas em prisões degradantes que agravarão a doença sem buscar a recuperação da sua saúde. Isto não se aplica às células ricas capazes de contratar advogados caros e voltar a agredir a sociedade em impune liberdade.
Mas se a radiografia indica marginalização ou exclusão social por extrema pobreza, as ações da sociedade terão que ser mais amplas, corajosas e efetivas. Trata-se de uma enfermidade social que atinge toda a sociedade, gerando múltiplos vírus e bactérias mortais: debilidade do tecido social, violência, conflitos - e guerras mundo afora.
Para humanizar esse modelo de sociedade capaz de marginalizar e excluir e não de tornar saudáveis tantas células enfermas, só resolvem reformas estruturais econômicas e sociais profundas. Entretanto as partes saudáveis desse corpo parecem não se dar conta do perigo da pandemia causada pelas cruéis desigualdades entre classes sociais. Impõe-se curar o sistema como um todo: o corpo celular e o ambiente em que vive. Avançar além dos passos prévios e necessários de dar o peixe e ensinar a pescar. Mudar o modelo socioeconômico injusto para que o dono do pesqueiro não tire o peixe das mãos do pescador e lhe pague o que não dá para comprar o peixe que pescou.
A família é a célula mais complexa do tecido social. Porque é tão capaz de cultivar e assegurar a própria saúde como de adoecer por si mesma, por falhas de comportamento dos seus componentes moleculares ou por não conseguir resistir a fatores externos desagregadores. São relações intrafamiliares conflitivas e desumanizantes, é a alienação social e política de seus membros, é a falta de compromisso com a construção de um mundo possível mais justo, fraterno e igualitário que os cristãos chamam de Reino de Deus, antecipado na história humana (“venha a nós”).
A missão de cada família para ser uma célula saudável da sociedade é portanto a formação de pessoas maduras, adultas, capazes de amar e relacionar-se socialmente de forma construtiva, comprometidas profeticamente com o bem comum, agindo com base em sólidos valores éticos, transmitidos entre seus membros: de pais para filhos, de filhos para pais, de todos para todos.
A lista de valores não é pequena: honestidade, sensibilidade social, compromisso com transformações humanizadoras da sociedade, resistência às pressões externas que debilitam e desagregam, capacidade de indignação frente a injustiças, coragem de se expor aos riscos próprios do profetismo cristão: anunciar a boa nova de um novo mundo justo possível e denunciar tudo o que se opõe à irrupção do Reino, aqui e agora.

*Membros do Movimento Familiar Cristão (MFC) e do Instituto da Família (INFA).