segunda-feira, 15 de março de 2010

Brasil no meio do tiroteio...

As andanças diplomáticas do presidente pelo Oriente Médio e em breve no Irã parecem obedecer a uma bem urdida estratégia do tipo “conforme combinado”. O mundo ocidental se une para pressionar o desconcertante líder iraniano com medidas sufocantes e tem o Brasil como válvula de escape para negociar amistosamente com o instável personagem para o bem de todos os envolvidos nesse complicado jogo de xadrez no qual um cheque-mate não convém a nenhum dos jogadores. Nas visitas preliminares.a Israel e Palestina, extremamente cordiais, o hábil senhor do Itamaraty deu um jeito de excluir da agenda do presidente uma homenagem ao fundador do sionismo que previa flores brasileiras em seu túmulo. Seria um desastre para o diálogo com o outro lado do muro da Cisjordânia. Assim, com esses sinais diplomáticos expressivos, pode ser bem sucedido o entendimento “desse cara” com o inquieto presidente executivo dos aiatolás para garantir átomos iranianos bem comportados. As críticas externas às andanças do presidente podem ser parte combinada de uma instigante coreografia.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Manifestação de repúdio

As drogas estão corroendo o tecido social de forma assustadora no Brasil. A mais destruidora é comprovadamente o álcool, destacadamente a cachaça, barata, de fácil circulação por todos os recantos mais remotos do país. Há destilarias por toda parte. Produzimos 1 bilhão de litros por ano.
O vício é poderoso, a dependência se torna incurável. Os estragos são variados: destruição da saúde física e mental do alcoólatra, desagregação da sua família, violência doméstica e no trânsito, deixando rastros de infelicidade, dor e morte, registrados nos noticiários de todos os dias.
Os graves custos sociais também se traduzem em custos financeiros bilionários para o sistema de saúde. Em suma, a cachaça é um inimigo perverso e traiçoeiro das famílias, pior ainda por ser tratado como elemento folclórico da nossa cultura, chamada carinhosamente de pinga ou cachacinha.

Manifestação de repúdio.

Em 28 de outubro, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou a criação do Dia Nacional da Cachaça, Projeto de Lei do deputado ruralista Valdir Colatto (PMDB-SC), com parecer favorável do relator, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), este alegando que “a cachaça já foi incorporada ao cotidiano de milhares de brasileiros”.

O projeto vai à aprovação do plenário da Câmara e, se aprovado, seguirá para o Senado. Na argumentação os autores dessa façanha destacam que “o produto é um dos símbolos do povo brasileiro”.

Imagina-se que a Comissão de Educação deva ter uma pauta robusta de temas e projetos a discutir e aprovar para que aconteça uma verdadeira e necessária revolução no modelo educacional do país. A criação de um dia de exaltação da cachaça a nível nacional é uma aberração, na contramão da sua pauta.

As entidades que subscrevem seu repúdio formal a esse projeto de lei convidam outras organizações a somarem esforços para sustar esse desvio de conduta de parlamentares muito bem remunerados pelo povo brasileiro, mas cegos à sua realidade.

MFC – Movimento Familiar Cristão
Utilidade Pública Federal
INFA – Instituto da Família
Utilidade Pública Federal, Estadual RJ, Municipal Rio
CAALL – Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade

sábado, 3 de outubro de 2009

Recordando Murillo Navarro Pereira

Dirigente do Movimento Familiar Cristão do Rio de Janeiro, com sua esposa Ilva.
Sócio fundador do INFA


Na missa, com Ilva, filhos, netos e bisnetos, parentes e tantos amigos, sete dias após seu falecimento, esta foi a mais tocante homenagem, oferecida por seus netos.
“Homenagear o senhor é a coisa mais difícil nesse momento. Difícil simplesmente pela pessoa maravilhosa que você foi e representou para nós. Nos ensinou a importância da família e o significado de uma palavra tão subjetiva como o amor, tornando esses dois conceitos muito reais em nossas vidas. Portanto, nós temos a agradecer, não só por isso, mas por todas as lembranças marcantes. Quem não conviveu não consegue entender o que eram nossas noites frias em Cabo Frio, com os primos reunidos, fazendo bagunça na casa; não consegue entender o por que adorávamos o seu exclusivo CATAPUMBA e os piqueniques na praia do Sudoeste; não consegue imaginar a alegria das nossas festas de Natal; não consegue imaginar como você era um ótimo contador de histórias; enfim, não consegue entender a falta que você faz!
Junto com a vovó, com dignidade e respeito criou 10 filhos e recebeu com amor todos os netos e bisnetos; construiu uma família linda que sempre terá você como um ícone, pode ter certeza! Obrigada por tudo, vô! Por todas as conversas e conselhos, por todos os ensinamentos, por ter sido não só um avô, mas amigo para todos nós! Obrigada por ter estado sempre presente tanto nos momentos tristes quanto nos felizes, dividindo conosco o simples prazer de tê-lo por perto. Se hoje você faz falta para todos é porque soube conquistar cada um em especial, porque teve o dom e a sabedoria de plantar apenas bons frutos em nossos corações.
Temente a Deus, sabia brigar quando necessário e puxava nossas orelhas só pra ficarmos espertos; fazia festinha em nossas cabeças como ninguém, mas também sabia pedir, não é, vó?!; era dono de um sorriso lindo e meigo e de uma risada gostosa, de um bigode e uma careca características, assim como uma teimosia irreverente, principalmente quando se tratava de idas ao médico ou tomar remédios.
Sabe, nem sempre sabemos dar valor a pequenos acontecimentos, rotineiros ou não, e só quando perdemos nos damos conta do inestimável valor que aquilo representava.
Só queríamos que o senhor soubesse que reconhecemos agora cada momento precioso e agradecemos a Deus por termos tido um avô que viveu o tempo todo nos proporcionando tantas alegrias; por termos tido um avô do qual possamos lembrar com alegria e orgulho; por termos tido o melhor avô do mundo.
Mais uma vez, o senhor está fazendo muita falta, mas com certeza a saudade que nós gostamos de ter e se, em algumas noites traiçoeiras, a cruz estiver pesada, saberemos agora que não só Cristo estará conosco em nossos corações.
Amamos Você!
Todos os netos.”
Autora do Texto: Paula Barroso Pereira Madruga, neta de Murillo Navarro Pereira

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Menino de rua

Nesse pequeno que passa, roto e sujo, pela rua, caminha o futuro. É a criança filha de ninguém, o garoto sem nome além de menino de rua. Passa o dia entre as avenidas da cidade, as praças e por vezes nos amedronta, quando se aproxima. Ele não vai à escola e todas as horas observa que se esgotam os momentos da sua infância.
Você atende os seus filhos, tendo para eles todos os cuidados. Esmera-se em lhes preparar um futuro, selecionando escola, currículo, professores, cursos. Acompanha, preocupado, os apontamentos dos mestres e insiste para que eles estudem, preparando-se profissionalmente para enfrentar o mercado de trabalho.
Você auxilia os seus filhos na escolha da profissão, buscando orientá-los e esclarecê-los, dentro das tendências que apresentam. Você se mantém zeloso no que diz respeito à violência que seus filhos podem vir a sofrer, providenciando transporte seguro, acompanhantes, orientações. São seus filhos. Seus tesouros. Enquanto seus filhos crescem em intelecto e moralidade, aqueles outros, os meninos de rua prosseguem na aprendizagem das ruas, maltratados e carentes. À semelhança dos seus filhos, eles crescerão, compondo a sociedade do amanhã. A menos que pereçam antes, vítimas da fome, das doenças e do descaso. Cruzarão seus dias com o de seus rebentos e, por não terem recebido o verniz da educação, as lições da moral e o tesouro do ensino, poderão ser seus agressores, procurando tirar pela força o que acreditam ser seu por direito. Você se esmera na educação dos seus e acredita ser o suficiente para melhorar o panorama do mundo. No entanto, não basta. É imprescindível que nos preocupemos com esses outros meninos, rotos e mal cheirosos que enchem as ruas de tristeza. Com essas crianças que têm apagada, em pleno vigor, sua infância, abafada por trabalhos exaustivos, além de suas forças. Crianças com chupeta na boca utilizando martelos para quebrar pedras, acocorados por horas, em incômoda posição. Crianças que deveriam estar nos bancos da escola, nos parques de diversão e que se encontram obrigados a rudes tarefas, por horas sem fim que se somam e eternizam em dias. Poderiam ser os nossos filhos a lhes tomar o lugar, se a morte nos tivesse arrebatado a vida física e não houvesse quem os abrigasse. Filhos de Deus, aguardam de nós amparo e proteção. Poderão se tornar homens de bem, tanto quanto desejamos que os nossos filhos se tornem. Poderão ser homens e mulheres produtivos e dignos, ofertando à sociedade o que de melhor possuem, se receberem orientação. Por ora são simplesmente crianças. Amanhã, serão os homens bons ou maus, educados ou agressivos, destruidores ou mensageiros da paz, da harmonia, do bem. É dever de todos amparar o coração infantil, em todas as direções, orientar a infância, colaborando na recuperação de crianças desajustadas. É medida salutar para a edificação do futuro melhor. Sem boa semente, não há boa colheita. Enfim: acolher e educar os pequeninos é humanizar a humanidade.

(Momento de Reflexão – via Internet)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Os pais em uma sociedade educadora

Marcelo Barros*
A comemoração do dia dos pais tem sempre forte apelo comercial, mas não deixa de suscitar fortes emoções, seja para quem pode abraçar seu pai, seja para as pessoas cujo pai já partiu para a eternidade. Esta data foi inventada, em 1953 pelo jornal O Globo, no contexto de uma crise política, "para permitir que os filhos homenageassem a figura heróica do chefe de família que, nestes dias, atribulados e difíceis, é o responsável pela preservação dos laços cristãos que mantêm unida a família brasileira" (Cf. O Globo, 05/ 08/2005).
Atualmente, a realidade política é mais estável e a sociedade é pluralista, ou seja, cultural e religiosamente diversificada. A família tem uma estrutura de convivência diversa e a comemoração do dia dos pais tem outro contexto e finalidade. Festejar o dia dos pais pode ser boa ocasião para se refletir sobre o exercício da paternidade, seja dos homens que têm a graça e a responsabilidade de ter gerado vidas, seja de outros que, mesmo sem ser pais biológicos, são responsáveis por uma paternidade afetuosa e espiritual.
Todo mundo pode ter amigos e amigas, mas cada ser humano tem apenas um pai e uma mãe. Em seu tempo, São Paulo escreve a uma comunidade que acompanha: "Embora vocês possam ter dez mil instrutores, não têm muitos pais. Só eu os gerei no Cristo" (1 Cor 4, 15).
As figuras de pai e mãe são, de tal forma, responsáveis pela estruturação da personalidade que é comum as pessoas idealizarem o que seria o pai ou a mãe perfeitos. Muitas mensagens que circulam no dia dos pais falam de um pai maravilhoso que, dificilmente, pode ser assim na vida concreta.
Hoje, no Brasil, uma em cada três crianças que nascem não tem como festejar o dia dos pais. Não por ser pobre ou por algum desastre natural, mas porque seu pai não a assumiu. Na certidão de nascimento consta apenas o nome da mãe. Todos os anos, no Brasil, nascem cerca de 800 mil crianças, frutos desta situação desumana (revista Época, 27/ 07/2009).
Ser pai no plano biológico é relativamente fácil e existem, hoje, técnicas genéticas que garantem isso para quem tenha alguma dificuldade. O desafiador é ser pai na construção amorosa de uma história humana. Trata-se de acompanhar contínua e generosamente outro ser em crescimento e que precisa de uma figura de educador como referência. Mesmo em uma sociedade na qual a maioria das famílias tem, cotidianamente, de lutar para sobreviver e garantir o seu trabalho, é importante assegurar o tempo de diálogo com os/as filhos/as, no qual estes possam ser confirmados e estimulados a sempre crescer na descoberta de novos valores e na relação benéfica entre escola e vida.
Na maioria das famílias brasileiras, é a mãe que, cada dia ou à noite, pergunta à criança pelo dever de casa. Embora, muitas vezes, nem ela mesma tenha segurança na matéria, confirma o filho ou filha no estudo. É importante que o pai, como homem, cumpra também a função de estimulador do crescimento educacional da criança ou adolescente. A escola cumpre um papel fundamental, mas só o apoio afetivo do pai e da mãe motivam a criança a avançar na escola e no caminho da educação integral. É por garantir este cuidado que o pai, mesmo se não teve as mesmas condições de estudar, pode sentir-se atualmente gerador contínuo de vida e crescimento para seus filhos. Ao fazer isso, ele vai constatar como tinha razão o poeta Vinícius de Moraes ao dizer no Poema Enjoadinho, que os filhos dão um trabalho imenso, mas, ao mesmo tempo, "que felicidade que os filhos dão!".
Ser pai significa assumir encargos sociais e humanos. Entretanto, para quem crê, é principalmente aceitar ser imagem de Deus-Amor, principalmente para as pessoas que nos olham como pai ou mãe.
* Monge beneditino e escritor. Publicado por ADITAL.

Nova Lei de Adoção

Sancionada pelo presidente da República no dia 3 a lei que estabelece novas regras para adoção, priorizando o direito da criança e do adolescente à convivência familiar. A nova lei entra em vigor em 90 dias. "É uma legislação criada para evitar a burocracia excessiva que hoje dificulta o final feliz para crianças e adolescentes que necessitam de uma nova família, e adultos que travam uma luta muitas vezes inglória para adotá-los", disse o presidente.
A lei deve reduzir a longa lista de espera para adoção no país. Hoje há cerca de 80 mil crianças e adolescentes em abrigos mas somente 3.500 em condições de adoção. Há 22.500 casais cadastrados para adotar. Fica limitada a dois anos a permanência em abrigos. Será assegurada assistência jurídica a gestantes e mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Austeridade

Como todos sabemos, a maioria das famílias brasileiras vive uma austeridade forçada. Tentando nada mais que sobreviver biologicamente pela venda de sua atividade física a baixo preço, essas famílias não consomem sequer o mínimo essencial para o desenvolvimento físico e mental equilibrado dos seus membros.

Helio e Selma Amorim*

Vivendo na condição de extrema pobreza ou miséria indigna, os que nascem estão condenados a reproduzir a pobreza pelos danos irreversíveis causados pela falta de alimentação adequada e efetiva assistência à saúde, pela exclusão social e condições precárias de vida desde o nascimento.
Falar-lhes de austeridade seria de mau gosto. Mesmo assim, há quem repreenda os pobres por gastarem numa cerveja de sábado ou na compra de alguma bugiganga inútil os parcos reais que, na ótica das nossas simpáticas elites, deveriam ser aplicados, por exemplo, em mais comida e higiene... Com essa apreciação crítica, sentem-se aliviadas. Afinal essa gente é pobre porque esbanja seu dinheirinho em coisas supérfluas em vez de comprar mais feijão.
Se nos transferimos para as famílias das classes médias, entretanto, vamos nos deparar com a farra consumista dos que têm trabalho, renda ou emprego seguro, e uma austeridade contrafeita dos que perderam o emprego ou o poder aquisitivo em conseqüência da crise financeira mundial.
Em ambos os casos, é forte o desejo de consumir, insuflado pela propaganda inteligente e sofisticada que associa à felicidade o consumo de bens atraentes de utilidade duvidosa.
Então os que podem, compram tudo o que se anuncia prometendo mais conforto e prazer. Comprar e possuir passa a ser um definidor de status social. A competição se estabelece, o espírito de imitação atua, a insensibilidade social e ecológica colabora. O amigo que compra para o filho uma engenhoca nova anunciada nas cores da TV passa a ser uma indução forte para que eu faça o mesmo por pressão desesperada do meu filho. Ele se julgará o mais infeliz dos infantes ou adolescentes mortais se não ganhar aquele brinquedinho idiota ou o joguinho estúpido de computador que lhe ensinará como atropelar velhinhos e mulheres grávidas para ganhar mais pontos.
Na mesa, o tradicional café com leite com pão e manteiga e o velho queijinho mineiro deram lugar a uma parafernália de tipos de pães, caixas e embalagens plásticas coloridas de cereais, sucrilhos, variados aditivos achocolatados para o leite longa-vida com a promessa de fartura de saúde e energia para a gurizada, à base de dezenas de vitaminas e proteínas - sem as quais ninguém sobreviverá, dizem os rótulos.
As embalagens sofisticadas, talheres, copos e toalhas descartáveis assustam: as latas de lixo ficam entulhadas, a cada dia, de "bens da natureza e frutos do trabalho do homem" que se descartam porque para isso foram feitos, em favor da simplificação do trabalho doméstico. A família mergulha, sem sentir, na sociedade do descartável e do desperdício criminoso, que destrói a natureza sem piedade.
É claro que se os bens realmente úteis e confortos simplificadores da vida doméstica fossem acessíveis para todos e que a natureza não fosse depredada por esse consumo, bastaria o cuidado de não se chegar à dependência desumanizadora das famílias a esses múltiplos bens materiais. Acontece que não é assim. A maioria das famílias não tem acesso a esses bens de consumo e a predação da natureza é cada vez mais evidente e preocupante.
Por outro lado, nas classes médias, a busca sôfrega pela posse de bens materiais, associada ao consumo obsessivo, se torna cada vez mais onerosa e exigente. É preciso trabalhar mais, fazer horas extras e "bicos" de fins de semana para ganhar mais e comprar mais. O tempo para o diálogo, para o lazer e a convivência familiar e social escasseia. Vive-se para trabalhar, comprar e consumir. Não há tempo para os filhos e para a contemplação da natureza.
Define-se um padrão de vida arriscado. Qualquer abalo na situação econômica da família que afete esse nível de consumo a que se habituou gera uma insatisfação nervosa. Já não sabem mais viver sem aquela quantidade de confortos e bens que passaram de supérfluos a indispensáveis.
O simples receio de que isto possa acontecer já afeta a tranqüilidade da família. É claro que um elevado padrão de vida escraviza e estressa. A austeridade, ao contrário, é libertadora e gera mais tranqüilidade. Se o padrão de consumo e conforto que adoto está abaixo do que meus rendimentos e capacidades pessoais me permitiriam, tenho maior segurança de que em situações de crise me será possível encontrar saídas para manter esse estilo de vida mais austero que adotamos.
Mais ainda e, principalmente: um padrão austero de vida gera uma capacidade maior de a família partilhar seus bens com os que nada têm. Os consumistas desvairados nunca têm como repartir. Estão sempre endividados nos seus variados cartões de créditos e cheques especiais para manter o seu arriscado padrão de consumo.
Como neutralizar ou pelo menos atenuar a indução ao consumismo desvairado nas famílias das classes médias?
Parece-nos que somente se pode enfrentar essa onda consumista avassaladora pela sensibilidade social cultivada desde cedo, com a consequente valorização da austeridade como opção de vida com mais liberdade, tranqüilidade e felicidade, entendida como expressão simbólica e ao mesmo tempo efetiva de solidariedade com os pobres. Austeridade que potencializa a capacidade de partilha de bens com quem não os tem.
Essa sensibilidade se constroi. Parte do contato habitual, físico, sensorial, com famílias pobres. Manter relações estreitas com famílias em situação de pobreza é essencial para se ver o mundo por sua ótica. Se desde criança os filhos são envolvidos nessa convivência com os deserdados e excluídos da sociedade, vão compreender, pouco a pouco, que o consumismo é absurdo, que o desperdício é uma agressão aos que vivem das migalhas dos ricos.
Sem esse envolvimento educativo e conscientizador, formam-se famílias burguesas que se isolam do mundo real em belos condomínios protegidos por grades e porteiros, mergulhados no consumismo desvairado, desenvolvendo as neuroses próprias desse modelo de família, que se manifestam na alienação e fuga da realidade e, nos casos extremos, no crescente uso de drogas, na multiplicação de gangues de jovens e adolescentes, até a opção pela criminalidade para alimentar a obsessão consumista, como o confessam tantos jovens delinquentes.
Vale resumir, insistindo: a austeridade é sem dúvida libertadora, base para a felicidade e expressão de solidariedade social.

*Diretores do Instituto da Família, Membros do Movimento Familiar Cristão.

v Como remar contra a corrente consumista?
v O consumo desvairado tem relação com a degradação do meio ambiente?